Correio Braziliense, n. 21779, 02/11/2022. Política, p. 5

Sinal verde para a transição 

Vinicius Doria


Mesmo sem uma palavra do presidente Jair Bolsonaro neste sentido, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), anunciou, ontem, o início do processo formal de transição com a equipe do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em curtíssima declaração, dada imediatamente após o pronunciamento do presidente, no Palácio da Alvorada, Nogueira disse que “o presidente Jair Messias Bolsonaro autorizou, quando for provocado, com base na lei, a iniciarmos o processo de transição” e que aguarda o encaminhamento formal, por parte da presidente do PT, Gleisi Hoffmann, do nome do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB-SP), como coordenador geral do gabinete provisório da chapa eleita no último domingo.

“A presidente do PT, segundo ela, em nome do presidente Lula, disse que na quinta-feira (amanhã) será formalizado o nome do vice-presidente Geraldo Alckmin (para coordenar o gabinete provisório). Aguardaremos que isso seja formalizado para cumprir a lei do nosso país”, concluiu o ministro, que deixou o Alvorada sem conversar com jornalistas.

Em suas redes sociais, Alckmin agradeceu a confiança do presidente e pontuou os princípios que adotará na função de coordenador-geral da transição. “Agradeço a confiança do presidente Lula na missão de coordenar a transição de governo. O trabalho da nossa equipe será norteado pelos princípios de interesse público, colaboração, transparência, planejamento, agilidade e continuidade dos serviços”, escreveu o vice eleito.

Alckmin declarou que o objetivo da equipe será “fornecer ao presidente, de forma republicana e democrática, todas as informações necessárias para que seu mandato, que começa em 1° de janeiro, seja bem-sucedido no atendimento das prioridades da população”.

Horas antes, em São Paulo, Gleisi Hoffmann já havia informado que manteve uma conversa com Ciro Nogueira, ainda na segunda-feira, para dar início à transição, independentemente da posição do presidente Bolsonaro.

“Conversei com o chefe da Casa Civil, senador Ciro Nogueira, e ele falou que está à disposição, que foi determinação do presidente de se instalar o processo de transição, que eu poderia passar a ele os nomes para fazerem as nomeações. O Centro Cultural Banco do Brasil está à disposição também. Queremos, já a partir de quinta-feira, estarmos lá começando a montar a equipe”, disse Gleisi.

O CCBB de Brasília é o local que, tradicionalmente, é cedido pelo governo federal para a instalação do gabinete provisório. O Banco do Brasil informou que o local estará à disposição da equipe do presidente eleito.

Os nomes dos coordenadores setoriais do gabinete de transição só serão anunciados após a instalação formal do processo, por ato administrativo da Casa Civil, como prevê a legislação. “Estamos começando a relacionar as demais pessoas que vão estar na coordenação. Eu e Aloizio Mercadante nos integramos para ajudar o governador Alckmin, mas tem outras pessoas e vamos também designar pessoas por áreas. Vamos conversar com pessoas e queremos começar isso já na quinta-feira”, disse Gleisi. A presidente do PT deverá estar em Brasília, amanhã, com Alckmin e Mercadante.

 

Orçamento

Uma das prioridades do governo de transição será negociar com o Congresso mudanças no Orçamento Geral da União para 2023 com o objetivo de adequar o projeto às demandas do novo presidente. Amanhã, o relator-geral do Orçamento, senador Marcelo Castro, se reúne com Mercadante — que coordenará a parte técnica da equipe de transição — e com o negociador indicado por Lula para esse diálogo, o ex-governador do Piauí e senador eleito Wellington Dias (PT). Alckmin também participa do encontro.

Detentor do banco de dados mais importante para o trabalho da equipe do presidente eleito Lula, o Ministério da Economia informou, por meio de nota, que, “como em transições anteriores, está preparado para prestar todas as informações disponíveis”. O ministro Paulo Guedes não deverá participar diretamente da interlocução com o gabinete de transição, mas deve indicar o secretário executivo da pasta, Marcelo Guaranys, e o secretário especial de Tesouro e Orçamento, Esteves Colnago, como representantes.

Outra pasta que se colocou à disposição para o processo de transição foi a da Saúde. O ministro Marcelo Queiroga disse que o ministério está “à disposição para prestar todos os esclarecimentos”.

 

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