Correio Braziliense, n. 21780, 03/11/2022. Política, p. 3

Mourão critica manifestantes que pregam golpe militar



O vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos) afirmou, por meio das redes sociais, que o golpe militar pedido por manifestantes nas ruas deixaria o Brasil “numa situação difícil perante a comunidade internacional”. Ele enfatizou que “as manifestações ordeiras, em justa indignação, são bem-vindas”, mas que há modos pacíficos de fazer “bloqueios”. 

De acordo com o general, existe hoje um “sentimento de frustração”, mas que o problema foi motivado pelo fato de a população ter aceitado “passivamente” a decisão judicial que permitiu a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), agora presidente eleito.

“O problema surgiu quando aceitamos passivamente a escandalosa manobra jurídica que, sob um argumento pífio e decorridos cinco anos, anulou os processos e as consequentes condenações do Lula”, escreveu. “Agora querem que as Forças Armadas deem um golpe e coloquem o país numa situação difícil perante a comunidade internacional.”

Mourão ainda falou em um manifesto para explicar a força de movimentos à direita. “As manifestações ordeiras, em justa indignação, são bem-vindas. Vemos nelas famílias, idosos, crianças… todos pessoas de bem. Está na hora de lançar um manifesto explicando isso e dizendo que temos força para bloquear as pautas puramente esquerdistas, além de termos total capacidade de retornarmos muito mais fortes em 2026. Precisamos viver para lutar no dia seguinte”, acrescentou.

Por fim, ele citou uma frase atribuída a Winston Churchill, que foi primeiro-ministro britânico. “Como dizia Churchill: ‘Na derrota temos de ter altivez e sermos desafiadores’”.

Em entrevista ao jornal O Globo, Mourão reprovou os protestos contra a vitória de Lula. “Nós concordamos em participar de um jogo em que o outro jogador (Lula) não deveria estar jogando. Mas, se a gente concordou, não há mais do que reclamar. A partir daí, não adianta mais chorar, nós perdemos o jogo”, reconheceu.

O vice-presidente repetiu que caberiam manifestações quando o petista recuperou os direitos políticos e ficou apto a concorrer nas eleições. “Deveria ter sido realizado quando o jogador que não deveria jogar foi (autorizado a jogar). Ali, deveriam ter ido para a rua, buzina. Mas não fizeram. Existem 58 milhões de pessoas inconformadas, mas aceitaram participar do jogo. Então, tem de baixar a bola”, disse.

Ao contrário do que pregam apoiadores extremistas de Bolsonaro, Mourão disse não acreditar em fraude no processo eleitoral. “Aceitamos participar do jogo. Não considero que houve fraude na eleição. Mas um jogador não deveria estar jogando. Essa é minha visão”, enfatizou.

 

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Mourão ainda comentou sobre a relação dele com Bolsonaro, que passou por mais baixos do que altos. “Ele é um sujeito mais incisivo, mais verborrágico, e eu não sou. Minha forma de fazer as coisas é outra”, frisou. “Ele sempre foi deputado. Na Câmara, se você não se destaca pela peleia, é engolido. E o papel do Bolsonaro era meter o dedo nos outros. E ele continua fazendo esse papel. Eu nunca fui disso, eu passei dessa fase na minha vida.” (IS)