O Globo, n. 32576, 15/10/2022. Política, p. 4

Nichos fortalecidos

Luã Marinatto


Pesquisa Datafolha divulgada ontem, na metade do segundo turno, mostra que os candidatos Lula (PT) e Bolsonaro (PL) mantiveram suas fortalezas, repetindo-se o resultado de sete dias atrás: 49% a 44%. Bolsonaro avançou entre os mais ricos e os evangélicos. Lula compensou subindo entre os mais pobres e os católicos. São 5% os eleitores que pretendem anular o voto ou votar em branco; e 1% se diz indeciso. Considerando-se os votos válidos, o placar é 53% a 47%. Ao Datafolha, 93% dos entrevistados declararam que sua decisão é final.

Passadas duas semanas do primeiro turno e percorrida a metade do caminho até a votação decisiva no próximo dia 30, o panorama da disputa presidencial permanece com poucas alterações. A pesquisa do Datafolha divulgada ontem, a segunda da campanha do segundo turno, trouxe Luiz Inácio Lula da Silva (PT) com 49% dos votos, contra 44% de Jair Bolsonaro (PL) — exatamente os mesmos percentuais do levantamento anterior. Segundo a pesquisa, 93% já fizeram uma escolha definitiva. A estabilidade pode ser explicada pelo avanço dos candidatos em nichos que já dominavam: o aspirante à reeleição teve dados favoráveis no eleitorado mais rico e entre evangélicos enquanto o petista ganhou votos entre os mais pobres e católicos. Dessa forma, no quadro geral, nada mudou no intervalo de uma semana. Ainda de acordo com o Datafolha, são 5% os que pretendem votar em branco ou nulo enquanto somente 1% dos entrevistados diz-se indeciso. Desconsiderando-se estes dois índices, como faz a Justiça eleitoral na apuração, Lula teria 53% dos votos válidos, contra 47% de Bolsonaro — números idênticos aos da semana anterior, mais uma vez. Nos dois tipos de cálculo, seja em votos totais ou válidos, a vantagem do petista dá-se acima da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. A pesquisa mostrou que Bolsonaro lidera com pelo menos dez pontos de vantagem em três dos quatro recortes por renda. A movimentação mais favorável a ele ocorreu entre os mais ricos, cujas famílias ganham mais de dez salários mínimos. Neste grupo, Lula aparecia à frente após o primeiro turno, com 52% contra 43%. No levantamento de ontem, é Bolsonaro, com 53%, que tem a fatia maior. O rival despenca 13 pontos, para 39%. O petista, porém, dá o troco no grupo com renda familiar mensal de no máximo dois salários. Junto aos mais pobres, segmento com maior número de eleitores — cerca de metade no levantamento — e no qual sempre teve vantagem confortável, Lula viu sua margem variar positivamente cinco pontos, de 54% para 58%, enquanto Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, para 36%.

Briga pelo voto religioso

Entre os que pertencem a famílias que ganham de dois a cinco salários mínimos mensais, recorte chamado a grosso modo de classe média baixa, Bolsonaro oscilou um ponto para cima, somando 53%, e Lula manteve-se com 41%. Já no grupo de cinco a dez salários por mês foi o presidente quem não caminhou, repetindo os 52% do levantamento anterior, mas o petista variou cinco pontos para menos, passando de 45% para 40%. Em uma campanha marcada, até o momento, pelo nível duvidoso e pela constância nos golpes abaixo da cintura, com direito a acusações sobre canibalismo e satanismo, a briga pelo voto religioso também andou de lado segundo os números do Datafolha. Favorito dos evangélicos, Bolsonaro oscilou três pontos para cima entre os fiéis e chegou a 65%, mais que o dobro de Lula, que estacionou nos mesmos 31%. Contudo, a flutuação junto aos católicos, onde é o ex-presidente que tem mais força, também deu-se no patamar de três pontos percentuais: o petista foi de 55% para 57%, e o candidato à reeleição, de 38% para 37%. As variações sutis, dentro da margem de erro, não permitem concluir se a visita de Bolsonaro a Aparecida, na última quarta-feira, dia da padroeira do país, afetou o humor desta parcela do eleitorado — os pesquisadores foram às ruas na quinta e na sexta-feira, já depois da data. Na ocasião, a presença do presidente foi criticada por lideranças religiosas locais, e apoiadores do chefe do Executivo chegaram a vaiar uma pregação que tratou do problema da fome no país. As imagens que vêm sendo exploradas na campanha do PT. O Datafolha também mensurou a migração dos votos de Simone Tebet (MDB) e Ciro Gomes (PDT), terceira e quarto colocados no primeiro turno, respectivamente. De acordo com o instituto, Lula, que recebeu o apoio formal dos dois candidatos derrotados e vem apostando em Tebet na propaganda eleitoral e em atos públicos, acolhe uma fração maior dos eleitores de ambos em relação a Bolsonaro.

Avaliação da gestão sobe

Entre quem havia escolhido a senadora, o petista fica com 41% dos votos, contra 29% de Bolsonaro, além de 22% que preferem, agora, não optar por ninguém. O índice mostra um avanço de Lula em relação ao último levantamento, quando ele apareceu com 31% da herança de Tebet, patamar próximo aos 29% que já iam para Bolsonaro.

Já a movimentação entre os ciristas se deu de modo ainda mais favorável para o petista. Há uma semana, Bolsonaro levava vantagem neste grupo, ficando com 42% do svotos de Ciro, enquanto Lula angariava 31%. O cenário, entretanto, inverteu-se: o ex-presidente tem a preferência de 40% dos eleitores do pedetista, contra 31% que passaram a declarar uma escolha pelo atual ocupante do Planalto. Os que não votarão em nenhum dos dois são 24%. O levantamento mostrou ainda que, a duas semanas da eleição, Bolsonaro é rejeitado por 51% do eleitorado, enquanto 46% não votariam em Lula de jeito algum. Em ambos os casos, os índices não sofreram alterações. A pesquisa apontou também que a avaliação do mandato do presidente Jair Bolsonaro oscilou positivamente. O percentual de eleitores que consideram a gestão atual como ótima ou boa é de 38%, um ponto a mais do que no levantamento anterior. Essa é, numericamente, a melhor avaliação do governo Bolsonaro: até então, o melhor resultado era de 37%, em dezembro de 2020, em meio ao pagamento do auxílio emergencial, índice que foi repetido na última semana.

Por outro lado, 39% consideram o atual governo ruim ou péssimo. Na última pesquisa, eram 40%. O Datafolha apontou, por fim, que 22% consideram a administração de Bolsonaro regular, patamar igual ao da semana passada.