Valor Econômico, v. 20, n. 4962, 18/03/2020. Empresas, p. B10

Quarentena eleva demanda de aplicativos de transporte e delivery
Maria Luíza Filgueiras
Bruno Villas Bôas


Enquanto o governo e muitas empresas se esforçam para que o maior número de pessoas trabalhe de casa em período de quarentena para evitar a propagação da covid-19, as empresas de serviços e de entregas por aplicativos sentem aumento de demanda por seus serviços. Para evitar transporte público, alguns brasileiros buscam os aplicativos de transporte privado, como Uber e 99. Para fugir de supermercados e farmácias, pedem entregas em casa.

A rede de prestação de serviços dessas empresas segue em plena atividade uma vez que, como autônomos, parar o atendimento significa ficar sem pagamento - o que tem desafiado as companhias a aumentar treinamentos e tentar dar suporte financeiro a seus colaboradores. Empresas como Uber e iFood estão criando um fundo para apoio financeiro àqueles que tiverem necessidade de isolamento.

No aplicativo de entregas diversas Rappi, a demanda triplicou em duas semanas, principalmente em compras de supermercados, farmácias e restaurantes. Na América Latina, a alta foi de 30% em dois meses. A empresa tem incentivado usuários e entregadores a fazer a entrega sem contato, deixando os pedidos na porta, e com pagamento pelo aplicativo, para evitar manuseio de maquininhas e dinheiro. A empresa diz que tem mantido contato constante com os parceiros, sobre prevenção, e disponibilizado álcool em gel e máscaras antibacterianas.

No iFood, aplicativo que faz entrega de comida, o trabalho de escritório vinha ocorrendo por revezamento e começou em esquema de “home office” desde ontem. Para os entregadores independentes, a empresa criou um fundo de R$ 1 milhão, que será gerido pela ONG Ação da Cidadania. A empresa diz que pede aos entregadores com suspeita ou confirmação de covid-19 a seguir as orientações de saúde dos órgãos públicos e informar a companhia assim que possível.

A ONG ainda não definiu os critérios daqueles que poderão receber recursos do fundo. Como a empresa já tinha uma campanha promocional para março, não é possível distinguir quanto de seu crescimento de demanda veio da quarentena.

O Uber, que além de transporte particular de passageiros também tem aplicativo de entrega de restaurantes, informou que o motorista ou entregador que tiver quarentena solicitada por autoridade de saúde pública receberá assistência financeira nos 14 dias de conta de trabalho suspensa.

No fim de semana, o primeiro após a recomendação para famílias evitarem locais fechados, a Domino’s Pizza registrou alta de 10% no volume de vendas por delivery no Brasil. As entregas responderam por 60% do total dos pedidos da rede no país, incluindo os presenciais nos restaurantes. A rede também estendeu ao Brasil a entrega sem contato, que já havia implantado em países como China, Itália, EUA e Austrália.

Medida semelhante de menor contato entre clientes e entregadores vem sendo testada pelo iFood. A ideia é que ambos combinem por um sistema de mensagem para deixar o pedido. Em nota, a rede informou que o objetivo é que isso evolua para uma entrega sem contato.

Já as vendas de comida japonesa e de pizza do grupo Rão podem crescer cerca de 50% no curto prazo, para R$ 1,6 milhão a R$ 3 milhões por semana, respectivamente. Guilherme Lemos, presidente do grupo de delivery, diz que a projeção se baseia nos picos de entregas registrados em feriados, quando as famílias estão em casa.

 “Com o governador do Rio, Wilson Witzel, recomendando o atendimento presencial em bares e restaurantes, o cenário acabou sendo reforçado”, disse Lemos.

O executivo diz que as projeções de aumento das vendas também levam em consideração o fornecimento regular de insumos, o que se tornou mais incerto com as paralisações provocadas pela epidemia. Só em 2019 o grupo entregou mais de 1 milhão de pedidos.

“Soltamos comunicados internos orientando os franqueados a aumentarem os estoques de mercadorias por causa tanto da maior demanda dos clientes quanto para eventuais problemas de fornecimento de insumos”. Grandes concorrentes teriam feito movimentos semelhantes de estoque, afirmou.

Carlos Sadaki Kaidei, presidente do Grupo TrendFoods, que detém as marcas China in Box e Gendai, diz que não percebeu ainda aumento significativo nas vendas. Segundo ele, a empresa tem adotado processos de fornecimento de insumos”. Grandes concorrentes teriam feito movimentos semelhantes de estoque, afirmou.

Carlos Sadaki Kaidei, presidente do Grupo TrendFoods, que detém as marcas China in Box e Gendai, diz que não percebeu ainda aumento significativo nas vendas. Segundo ele, a empresa tem adotado processos de higienização e limpeza dos ambientes.

De acordo com a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o setor está preocupado com os estabelecimentos que têm no delivery só uma atividade complementar. No ano passado, o delivery faturou R$ 15 bilhões, dos quais as grandes redes representam apenas cerca de 30%. A maior parte do delivery está nos pequenos restaurantes, mas são poucos que conseguem sobreviver apenas do delivery. É diferente dos EUA, onde as grandes redes comandam o mercado, disse Paulo Solmucci, presidente-executivo da Abrasel. “Por isso, é preciso deixar os restaurantes abertos, respeitando as recomendações de saúde. ”