Título: Eles votam 'Não' apenas por esporte
Autor: Ricardo Albuquerque
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, País, p. A4

Praticantes de tiro ao alvo estão apreensivos com resultado do referendo

Os praticantes de tiro ao alvo estão apreensivos com o resultado do referendo de amanhã sobre o desarmamento. Caso o ''sim'' vença e o comércio de armas e munições seja proibido, os representantes temem que o desenvolvimento do esporte fique prejudicado. O aumento de preços de pistolas, carabinas e munições é apontado como um dos fatores que ameaçaria diretamente a prática esportiva a curto prazo. Federações e associações começaram a se mobilizar para impedir o esvaziamento da modalidade que conferiu a primeira medalha olímpica do Brasil, em 1920, na Bélgica. O presidente da Confederação Brasileira de Tiro Esportivo (CBTE), Frederico Costa, negou que tenha ocorrido um aumento no número de inscrições em associações e federações ligadas ao tiro alvo. Segundo ele, independente do resultado do referendo de amanhã, os clubes e associações estão de portas fechadas para os oportunistas de última hora, que já têm arma e pensam em obter facilidades para comprar munições ao se filiarem como desportistas:

- Nossas munições são especiais, fabricadas exclusivamente para a prática do tiro. Quem espalhou esse negócio que estaria havendo uma corrida aos clubes de tiro foi o pessoal interessado na vitória do ''sim''. Trata-se de um boato sem o menor fundamento.

Quem faz coro com o representante da CBTE é o promotor de eventos Wilson Saldanha, 40 anos, presidente do Clube de Tiro Prático Magnum 44. Saldanha explica que os clubes estão prevenidos para impedir falsos aficcionados pelo esporte, que pensam em se inscrever com o objetivo de ter arma legalizada. Embora seja modalidade não-olímpica, adeptos do Tiro Prático usammunições recarregadas - estojo, espoleta e ponta de projétil são comprados separadamente, para evitar venda e manuseio de projéteis verdadeiros.

- Nós não vendemos munições. Nos treinos e campeonatos, as cápsulas são recolhidas e reaproveitadas. Quem conhece arma sabe que esse tipo de munição não serve para um policial porque pode falhar.

O comerciante e vice-presidente do Magnum 44, Alexandre Fonseca, 36, recorda que evitou assalto a caminho de casa, no Méier, que seria praticado por dois homens em uma moto pelo simples fato de ter sacado a arma. Como todos os praticantes de tiro, Fonseca tem permissão do Ministério do Exército para transportar a pistola de casa para o estande ou locais onde são feitos os campeonatos. O presidente da Federação Pernambucana de Tiro Esportivo, Wissam Maluf, também livrou o vizinho de uma situação de perigo:

- Invadiram a casa dele de madrugada. Eu estava acordado e rendi o assaltante sem disparar um tiro até porque a arma estava descarregada.

Wissam diz que as exigências burocráticas para se comprar uma arma e obter o porte de arma, previstos no Estatuto são suficientes para evitar explosão de venda de armas. É o que pensa Ronaldo Binari da Silva Freire, presidente da federação carioca e vice-presidente da CBTE.

- Seria mais fácil fazer cumprir o estatuto, que já é bastante rigoroso, do que estarmos perdendo tempo em discutir se o estado tem o direito de definir o que os cidadãos podem ter - afirmou Silva Freire.