Valor Econômico, v. 20, n. 4962, 18/03/2020. Empresas, p. B4

Trabalho em casa faz disparar demanda por laptop alugado

Marina Falcão
Gustavo Brigatto


Com o avanço da epidemia de coronavírus do Brasil, empresas de aluguel de notebooks e smartphones experimentam uma explosão da demanda de grandes clientes que estão liberando seus funcionários para trabalhar de casa. Diante da previsão de que o cenário vai se agravar nas próximas semanas, as companhias que locam equipamento estão reforçando estoques e ampliando quadro de funcionários.

A procura por aluguel de equipamento para home office na Agasus, que pertence ao fundo 220 Capital, já aumentou 300% na última semana em relação ao mesmo período do mês passado, conta João Luiz Lima, sócio da companhia. “O que vimos foi aumentar sensivelmente a procura das grandes empresas pelos nossos serviços”, diz.

Capitalizada após uma emissão de debêntures no valor de R$ 50 milhões no início do ano, a Agasus está antecipando para agora as compras de equipamentos que estavam previstas para serem feitas lentamente ao longo do ano. Segundo Lima, 20 mil novos computadores devem passar a compor o portfólio da empresa nos próximos meses, que conta com 80 mil itens, entre computadores, smartphones e tablets para locação em todo o país. Além disso, a empresa está ampliando em 20% o seu quadro de 94 funcionários, que atuam na preparação e entrega dos equipamentos aos clientes.

Por enquanto, Lima projeta que a Agasus encerrará o ano com alta de mais de 60% no faturamento, que deve alcançar R$ 80 milhões. Até o fim do ano, a empresa, sediada em São Paulo, pretende abrir escritórios em Fortaleza e Recife.

Com sede em Belo Horizonte, mas também com atuação nacional, a Microcity estava com estoque carregado quando o coronavírus desembarcou no Brasil, mas mesmo assim está adquirindo mais 5 mil equipamentos para colocar para locação para home office. A decisão de antecipar as compras foi tomada no fim da semana passada, quando a demanda por locação - e demais serviços para home office como manutenção e segurança de equipamentos e sistemas - apontava para de 400%, na comparação anual. A empresa tem hoje 200 mil itens alugados.

Renato Castro, diretor geral da Microcity, diz que os grandes clientes têm procurado firmar contratos que vão de 6 a 12 meses. Os principais setores que estão buscando os serviços de home office são varejo, indústria, financeiro e saúde, diz.

Para o empresário, a pandemia pode se tornar um ponto de inflexão nas relações de trabalho. “A epidemia acabou sendo um impulso que faltava para muitas empresas desengavetarem projetos de home office”, diz. “Muitas, após experimentarem o modelo de trabalho, vão acabar aderindo em definitivo, mesmo quando a epidemia passar”, afirma.

Dono da BRMobile, o empresário Rony Breuel, diz que dos 5 mil equipamentos da empresa, 3 mil estão alugados atualmente apenas por conta do coronavírus. Ele diz que, em um primeiro momento, sentiu uma queda na demanda de aluguel de equipamentos de curtíssimo prazo, movimento que acompanhou o mercado de eventos, que sofreu com cancelamentos. “Logo em seguida, veio o movimento das grandes empresas buscando o home office, que mais que compensou. Boa parte do nosso estoque está comprometida e estamos estudando fazer mais aquisições. ”

O empresário teme, no entanto, que comprar computadores e smartphones em maior escala pode não ser tão simples. “Muitos fabricantes com produção reduzida por conta de peças chinesas”, diz.

Por ora, os empresários dizem que os preços no mercado de aluguel de equipamentos ainda não subiram de forma considerável. “Mas podem subir porque vamos comprar mais produtos com câmbio desfavorável”, diz Breuel.

Ele prevê ainda que, em poucas semanas, as empresas do ramo não serão suficientes para atender a demanda de grandes clientes.

A locação de computadores já vinha ganhando espaço no Brasil, à medida que empresas optam por ter mais recursos em caixa em vez de gastar com a compra de ativos e se acostumam com o modelo de locação de software (o software como serviço). O aluguel tem participação de cerca de 10% nos cerca de R$ 6 bilhões que as empresas gastam todo ano com novos equipamentos.

A Positivo Tecnologia, que trabalhava com a locação de forma reativa e, há cerca de dois anos, criou uma operação específica, a Positivo as a Service, sentiu, nos últimos três dias, um aumento de 364% nos pedidos de cotação de preço e consultas sobre locações. Segundo Rafael Campos de Oliveira, responsável pela área de aluguel, o total superou o volume de locações que a companhia fez ao longo de 2019. A demanda, diz ele tem vindo tanto da base atual de clientes, como de empresas novas.

Por conta do pico de procura, a Positivo passou a oferecer contratos com prazos menores, entre 6 e 12 meses, contra 36 a 60 meses nas negociações convencionais. “Ainda não dá para saber se as empresas vão permanecer como clientes ou se será uma solução temporária”, diz. Segundo ele, os aparelhos da linha Vaio (marca licenciada da japonesa Sony) estão disponíveis para pronta entrega em todo o Brasil e não há expectativa de falta de produtos para atender ao mercado. Em 2019, o Positivo as a Service teve receita de R$ 33 milhões, um crescimento de 93% em relação a 2018.

Na empresa de serviços de tecnologia Sonda, o número de consultas triplicou e houve até alguma dificuldade para encontrar a quantidade de equipamentos necessários para atender aos clientes. “Em vez de centralizar em um distribuidor tivemos que procurar em vários, foi uma logística mais difícil, mas conseguimos encontrar as máquinas”, diz Affonso Nina, presidente da companhia.