Correio Braziliense, n. 21783, 06/11/2022. Política, p. 2

Importância do reconhecimento imediato



O historiador e brasilianista norte-americano James Green, professor da Universidade Brown, na Califórnia (EUA), destaca que o fato mais importante da vitória de Lula foi a mobilização do povo brasileiro pela democracia, assim como o reconhecimento imediato de vários líderes globais, principalmente, Biden.

“É uma indicação da compreensão internacional sobre o Brasil e os desafios que nós enfrentamos nesse momento internacionalmente contra o neofascismo, o autoritarismo. A vitória de Lula é um caminho contra esse pesadelo”, frisa. Para ele, Lula indica que vai ter uma grande ênfase no seu trabalho internacional e, nesse sentido, “vai cumprir um papel muito importante na área do meio ambiente”. De acordo com a economista Monica de Bolle, pesquisadora sênior do Peterson Institute for International Economics (PIIE), sediado em Washington, a sensação de alívio com a derrota de Bolsonaro é generalizada no exterior. “As lideranças mundiais, todas elas, estão muito aliviadas, porque o Brasil com Lula volta à geopolítica internacional e, por várias razões importantes, mas, principalmente, por causa das discussões sobre mudanças climáticas que estão no centro do debate internacional.

O Brasil havia se colocado como pária nessa discussão, tendo em vista a atuação do governo Bolsonaro e a atuação do ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles”, ressalta. De Bolle lembra que o Brasil ficou, durante muito tempo, sendo tratado como um país “absolutamente irrelevante”, porque estava indo na tendência contrária do resto do mundo. “Agora, o Brasil volta a ter um protagonismo importante. Outra razão também muito importante é que as lideranças globais andam extremamente preocupadas com esses movimentos extremistas, em particular, os da ultra direita. E essa vitória do Lula foi importante para mostrar que, apesar desses movimentos estarem crescendo e se disseminando, ainda há caminhos para derrotá-los”, adiciona. Professor de política internacional da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador da Universidade de Oxford, no Reino Unido, Dawisson Belém Lopes enxerga um “otimismo moderado” com o novo governo brasileiro, tanto da Europa quanto dos Estados Unidos e da Ásia, porque porque a situação econômica do país tem certos “constrangimentos”.

“A reação de mais de 200 chefes de Estado e de governo e de autoridades governamentais ao redor do mundo é um indicativo desse momento pelo qual o Brasil atravessa, depois de longos anos de uma política externa deprimida, sem muito brilho. No plano internacional, o Brasil parece prestes a recuperar um protagonismo e há uma aposta sim eu diria na chegada ao poder de Lula”, afirma. Para Lopes, os dois primeiros anos do novo governo “serão de rearrumação da casa”, mas a receptividade à vitória de Lula está sendo muito positiva no mercado financeiro, inclusive, refletida nos indicadores tradicionais, como câmbio e Bolsa. O Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), acumulou alta de 3,91% ao longo da semana e o dólar recuou 4,5% na mesma base de comparação.

No entender do economista Luiz Fernando Figueiredo, que acaba de assumir a presidência do Conselho de Administração da Jive Investments, os investidores estrangeiros estão mais otimistas com o Brasil diante das perspectivas de crescimento dos investimentos comprometidos com as concessões de infraestrutura do que na vitória de Lula. Ele ressalta que o otimismo de investidores estrangeiros vem ocorrendo há algum tempo, “porque eles mudaram a percepção do Brasil”, ampliando, com isso, o fluxo de capital para o país. Segundo Figueiredo, um dos principais motivos do otimismo dos investidores estrangeiros em relação ao Brasil, que vem ocorrendo há algum tempo, na visão dele, é a mudança de percepção do Brasil.

“O pipeline enorme de reformas feitas nos últimos três anos, como a da Previdência, a autonomia do Banco Central, os marcos do saneamento e da cabotagem, a lei de falências, entre outras . “O volume de investimento estrangeiro direto está aumentando e o volume de concessões e algumas privatizações estão gerando um pipeline de investimentos acima de R$ 900 bilhões nos próximos 10 anos.

O investidor olha para onde há crescimento, e, com o mundo crescendo menos, eles estão investindo no país”, comenta. De acordo com Figueiredo, apesar do otimismo na Bolsa, ainda há muita incerteza no ar. “Ainda não sabemos quem vai compor a equipe econômica e não sabemos se o novo governo vai conseguir caminhar na direção correta”, acrescenta. Nesse sentido, Luis Otavio de Souza Leal, economista-chefe do Banco Alfa, reforça que esse otimismo dos estrangeiros, que atraiu R$ 2 bilhões de capital estrangeiro na Bolsa em um único dia após as eleições, têm sustentado a alta do Índice Bovespa e feito o dólar cair, mas só será sustentável se houver preocupação do novo governo com o equilíbrio das contas públicas. “Se o novo governo não errar na parte fiscal, o dólar vai para menos de R$ 4,80”, aposta. (RH)