Título: Vote pela mudança
Autor: Renan Calheiros
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, País, p. A5

As pesquisas sobre a relação entre armas de fogo e violência urbana são recentes no Brasil, mas já têm abrangência suficiente para tirar o debate do nível do ''achismo'' e colocá-lo na racionalidade exigida por uma política de segurança pública.

Pelo menos quatro pesquisas destroçaram mitos que o Brasil mantinha sobre armas. A primeira, realizada pelo Iser analisando 223.584 armas apreendidas na ilegalidade no Estado do Rio, derrubou a idéia de que as armas que nos ameaçam são estrangeiras e de grosso calibre. Na verdade, 81% são brasileiras, 80% são pistolas e revólveres.

O segundo, da Secretaria de Segurança do Estado do Rio, a partir da análise de 86.800 armas apreendidas em situação de crime violento, revelou que 61% foram vendidas para homens de bem, 51% das que foram apreendidas nas mãos dos traficantes idem e 67% das armas usadas em estupros.

A terceira pesquisa, do Iser, analisou mais de 3 mil ocorrências no Rio, e constatou que quem reage com arma a assalto corre 180 vezes mais chance de morrer. A quarta pesquisa, feita pelo Instituto de Altos Estudos de Genebra e o Iser, estimou em mais de 17 milhões as armas que circulam no Brasil, 90% nas mãos de civis.

A campanha do ''Não'' está centrada no ''direito ao uso de armas que conquistamos''. Quem conquistou esse direito? No regime militar era facílimo comprar arma, e as restrições começaram na democracia de FHC. ''Direito constitucional?'' O conceito de autodefesa é um retrocesso à justiça pelas próprias mãos, atualizada pela doutrina Bush de privatização da segurança: a classe média se arma e contrata empresas de segurança; os ricos, guarda-costas e os pobres que se lixem. No modelo de república democrática, investe-se numa polícia pública que proteja igualmente a ricos e pobres. Se a nossa é deficiente, a sociedade tem que se mobilizar para exigir mais investimento no setor.

A proibição do comércio de armas é um passo a ser seguido pela aplicação integral do Estatuto do Desarmamento, que visa desarmar os bandidos. Votar SIM é votar na mudança.