O Globo, n. 32579, 18/10/2022. Política, p. 8

Michelle e Dama­res tentam reduzir danos de declaração

Malu Gaspar
Fernanda Trisotto


A primeira-dama Michelle Bolsonaro e a ex-ministra Damares Alves se encontraram ontem, em segredo, com líderes comunitárias venezuelanas do projeto social que atende as refugiadas nos arredores de Brasília. As duas foram escaladas para tentar contornar o desgaste da fala do presidente Jair Bolsonaro, que disse ter “pintado um clima” com as menores venezuelanas, durante um passeio de moto no ano passado, na comunidade de São Sebastião, a cerca de 20 quilômetros do centro de Brasília.

Michelle e Damares vinham insistindo desde sábado para serem recebidas pelas venezuelanas, que só cederam à pressão ontem, depois que entrou em cena a embaixadora da Venezuela em Brasília, Maria Teresa Belandria. O encontro ocorreu na casa de um pastor no Lago Sul, na capital federal.

As líderes comunitárias são do projeto social que atende as refugiadas venezuelanas nos arredores de Brasília. Segundo relatos de pessoas que estavam na conversa, as lideranças disseram entender que houve um mal-entendido e que Bolsonaro não quis chamar as menores de prostitutas.

Declaração pública

Na entrevista ao canal Paparazzo Rubro Negro, no YouTube, além de afirmar que “pintou um clima” com as meninas, Bolsonaro disse que elas estavam “arrumadas para ganhar a vida”, quando na verdade elas participavam de um curso de estética, maquiagem e corte de cabelo.

A expectativa na campanha é que, depois do encontro de ontem, Bolsonaro e Michelle façam uma declaração pública a esse respeito.

Mesmo com a resistência das venezuelanas em receber a primeira-dama e a senadora eleita pelo Distrito Federal, desde o final do dia de domingo a casa visitada por Bolsonaro em 2021, estava cercada por repórteres.

Servidores do governo federal já tinham tentando encontrar as menores no endereço onde Bolsonaro gravou uma live com elas, após conhecê-las durante o passeio de moto e também foram à Cáritas Arquidiocesana da capital, organismo da Igreja Católica que presta assistência aos migrantes daquele país que chegam ao Brasil.

Em São Sebastião, O GLOBO encontrou funcionários do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), órgão responsável pela proteção do chefe do Executivo e de sua família, além de servidores da Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom). Oficialmente, o GSI não informou por que esteve no endereço. Já a Secom explicou que estava na região porque havia demandas de jornalistas sobre o assunto.

Paulo Henrique de Morais, diretor da Cáritas em São Sebastião, contou que chegou a ser procurado no domingo por uma pessoa que se identificou como funcionário do governo e disse querer combinar uma visita “da ministra” ao local. Por volta de 15h, eles receberam a informação de que receberiam a visita de uma ministra — sem identificar quem seria a autoridade. Mas depois de a Cáritas falar com a imprensa, as equipes do Planalto começaram a desmobilizar seu pessoal e dizer que a visita estava cancelada.

No domingo à noite, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, determinou a remoção de vídeos postados por perfis da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em redes sociais que reproduziram fala de Bolsonaro sobre venezuelanas ou qualquer conteúdo relacionado ao tema.