Título: Mistério na poluição do Lago Oeste
Autor: Adriana Bernardes
Fonte: Jornal do Brasil, 19/10/2005, Brasília, p. D5

O governo do Distrito Federal ainda não sabe de onde vem o benzeno responsável pela contaminação da água dos poços do Lago Oeste, há cerca de 28 quilômetros do Plano Piloto. A substância tóxica é derivada do petróleo e a exposição a longo prazo - 10 anos ou mais - pode causar até leucemia. Durante todo o dia de ontem 70 funcionários e parte dos 1,2 mil alunos do Centro de Ensino Fundamental do Lago Oeste passaram por exames físicos e tiveram amostras de sangue e urina coletadas. Os testes devem revelar se houve intoxicação pelo consumo da água contaminada e a gravidade ou não do problema.

O atendimento médico começou por essa escola porque o primeiro foco de contaminação foi detectado na caixa d'água e no poço profundo da instituição, no dia 29 de setembro.

Ações - Ontem o governo divulgou um pacote de medidas que devem diminuir os riscos para a população. O secretário de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), Antônio Gomes, informou que a Semarh vai exigir dos quatro postos de combustíveis e as sete usinas de asfalto, localizadas num raio de 15 quilômetros dos registros de contaminação, estudos comprovando que não são as fontes poluidoras. O prazo previsto para que entreguem o laudo é de 30 dias.

Enquanto isso, técnicos do governo analisarão a qualidade da água de outros 35 poços profundos e rasos do Lago Oeste. Gomes não soube dizer a localização dos poços que passarão pelo teste. Informou apenas que a definição obedecerá a critérios técnicos e científicos.

Água proibida - O governo recomendou aos moradores do Lago Oeste que não utilizem a água de nenhum dos 327 poços profundos da região por haver o risco, ao menos em teoria, de contaminação por benzeno. Isto porque das 23 amostras coletadas, as oito que apresentaram níveis de benzeno acima do permito por lei, eram de poços profundos.

A partir de hoje, a Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal (Adasa) começa a lacrar os oito postos onde já foi comprovada a contaminação.

- Se os testes comprovarem que outros poços estão contaminados, eles serão imediatamente lacrados - garantiu o diretor da Adasa, Humberto Ludovico.

Outra medida adotada pela agência será a fiscalização de todos os poços do Lago Oeste. Na área, de 3,5 mil hectares, a estimativa é que existem aproximadamente 765 poços - sendo 428 rasos, com cerca de 10 metros de profundidade - e outros 327 profundos, com mais de 70 metros de profundidade. Destes, apenas um tem a outorga, uma autorização dos órgãos ambientais do DF. Os demais são considerados irregulares.

- Os donos terão que fazer análise completa para saber se podem ou não ser utilizados. Se não houver nenhum problema, receberão autorização. Caso contrário, serão desativados - avisou Ludovico.

A previsão é que o governo divulgue, hoje, portaria conjunta com o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. O documento deverá conter esclarecimentos a população e também as medidas adotadas pelo governo para esclarecer o mistério.