Valor Econômico, v. 20, n. 4963, 19/03/2020. Brasil, p. A10

Efeitos da crise levam governo a rebaixar projeção do PIB

Mariana Ribeiro
Fabio Graner
Edna Simão


Frente ao avanço dos efeitos do coronavírus sobre a economia, a previsão oficial para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 foi revisada e ficará “bem abaixo do que originalmente estava projetado”, afirmou ontem o secretário especial de Fazenda, Waldery Rodrigues.

Na semana passada, a Secretaria de Política Econômica (SPE) do ministério cortou sua projeção de 2,4% para 2,1%. Os parâmetros utilizados nas estimativas, no entanto, ainda não refletiam inteiramente a piora recente no cenário econômico devido ao agravamento da pandemia.

Waldery não quis informar qual é a nova projeção. Disse apenas que o número será comentado na sexta-feira, durante a apresentação do relatório bimestral de avaliação de receitas e despesas. O Valor apurou que as novas estimativas indicam crescimento abaixo de 1%. Alguns membros da equipe econômica apontam que algumas simulações já indicam PIB zero ou mesmo negativo. O ministro da Economia, Paulo Guedes, por sua vez, afirmou ontem que os próximos meses, de enfrentamento da crise, devem ser de preparo para a retomada do crescimento. Para ele, é possível que haja “reaceleração no segundo semestre”.

Em coletiva à imprensa, Waldery destacou que a previsão para o PIB é a variável macroeconômica que teve revisão mais forte e que a nova estimativa do governo “está em linha com a do mercado”. Analistas de mercado consultados pelo Banco Central (BC) estimavam alta de 1,68% na edição do Boletim Focus, divulgada na segunda-feira. “Várias projeções do mercado indicam valores entre 0,5% e 0%. Nossos números refletem essas alterações”, afirmou Waldery. Ele colocou ainda que para cada redução de 1% na projeção de crescimento há impacto de cerca de R$ 10 bilhões na receita.

Técnicos do Ministério da Economia colocaram que o pedido de decretação de estado de calamidade pública, enviado pelo governo ao Congresso, é o “instrumento mais adequado” para lidar com a crise. De acordo com eles, seria impossível precisar agora uma meta de resultado primário para o ano, mesmo que folgada.

“Assim que tivermos clareza sobre extensão dessa crise, poderemos enviar um projeto de lei ao Congresso com uma meta”, afirmou Waldery. O secretário de Orçamento Federal, George Soares, acrescentou que, hoje, não há clareza da demanda efetiva de gastos nos próximos dias.