Título: Começa julgamento do caso Irajá
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Fonte: Jornal do Brasil, 21/10/2005, Brasília, p. D5

O fazendeiro Morelos Vasquez é acusado de ser o mandante do crime que matou o desembargador Irajá Pimentel em 2002

A promotoria do caso Irajá Pimentel, desembargador aposentado do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) morto a tiros em março de 2002, acredita que o mandante do assassinato é o fazendeiro mexicano Morelos Adolfo Verlage Vasquez, que começou a ser julgado ontem. De acordo com a acusação, o motivo foi a disputa por terras da fazenda Samambaia, de 907 hectares, localizada em Cristalina (GO). Em mais de oito horas de interrogatório, no julgamento, o réu negou ligação com o crime.

- Nunca tive desavenças com Pimentel. Nossas fazendas são vizinhas. Só não acho correto ele ter tomado posse do que pertencia ao meu avô - declarou Morelos, referindo-se e a 600 hectares da Samambaia que teriam sido tomados de Bernardo José Verlage Pruss, em 1988, pelo dono de uma imobiliária de Cristalina, Gildomar Gonçalves Ribeiro, mais tarde eleito prefeito da cidade, em 1992.

O acusado assegurou que o avô e o pai, Morelos Patrício Verlage Vasquez, foram enganados por Ribeiro, que conseguiu deles o direito de uso das terras alegando que faria o loteamento da área a título de corretagem.

- Meu pai era um matuto, só cursou dois anos do primário. Acabou caindo no conto das fadas - justificou.

Depois, a terra foi vendida ao desembargador. Até 2001, o réu havia entrado com uma ação na Justiça contra Irajá Pimentel reivindicando a área. O advogado de defesa, Sebastião Coelho, afirma que essa parte da fazenda foi dada a Irajá Pimentel como pagamento de honorários.

- O desembargador nunca pagou um tostão por elas. Foi um acordo com Ribeiro - disse.

Uma outra ação movida por Morales apelava para a redemarcação das terras que ficam na divisa entre a Samambaia e a fazenda dele. Nesse caso, a defesa sustenta que o desembargador, além de ter a posse de um território que historicamente pertence |á família Verlage Vasquez, avançou 90 hectares além dos limites da Samambaia para dentro da propriedade do acusado. A prova disso, segundo o réu, é que a divisa entre as duas propriedades foi estabelecida nos anos de 1990, com base em um mapa de 1959 pouco preciso e desatualizado.

Irajá Pimentel venceu as duas ações. De fato, segundo a promotoria, as terras são propriedade do desembargador, legalmente registradas em cartório sem qualquer irregularidade. Para o promotor do caso, Temístocles de Mendonça Castro, o assassinato foi motivado pela raiva de Morales.

- Ele perdeu todas as ações contra o Dr. Pimentel, não havia mais o que fazer - afirmou.

O acusado tentou recorrer da decisão, mas o juiz da 15ª Vara Cível do TJDF, Carlos Divino Vieira Rodrigues, indeferiu a apelação porque o réu contestou a decisão fora do prazo.

A expectativa é de que o julgamento se estenda até sábado (22) à tarde, quando o réu receberá a sentença ou a absolvição. Nesta sexta-feira serão ouvidas as testemunhas, quatro de defesa e quatro de acusação. Os nomes não foram divulgados.

Morelos Adolfo Verlage Vasquez é o quarto a ser julgado pela morte do desembargador aposentado. Ano passado, Kazorrino dos Santos Lima foi condenado a 26 anos e 10 meses de reclusão por ser o mentor do assassinato. Outros dois acusados, Antonio Marcos Batista e Daniel Rocha Arruda, já foram julgados e absolvidos. Os demais acusados, Hélio Carneiro dos Santos, Ricardo Alexandre Pires, Mauri César Coelho, Rogério Gomes de Oliveira e Rafael Verlage Vasquez, este irmão de Morales, estão presos aguardando os jugamentos.