Título: Um prato cheio para a oposição
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, País, p. A2

O referendo sobre a proibição da venda de armas e munições realizado ontem virou palanque eleitoral para políticos que aproveitaram para criticar Lula e o PT. Eles tentaram atrelar a vitória do Não à desaprovação popular do governo em função da insegurança. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, tentou tirar o foco político da consulta popular. Ele disse, ao votar, que o referendo não significa a aprovação ou a desaprovação do governo. E acrescentou que o julgamento do governo Lula será feito em 2006.

¿ Não vejo como isso possa ser um plebiscito a favor ou contra o governo. A eleição que vai julgar o governo do presidente Lula vai ser em 2006 ¿ disse o ministro da Justiça, que usava um botton do Sim na lapela.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou sua opção pelo Sim ao votar, pela manhã, em São Bernardo do Campo, São Paulo, acompanhado da primeira-dama Marisa Letícia, que também votou no Sim.

Ao sair da seção eleitoral, Lula disse que a vontade popular deve ser soberana, mas defendeu que ¿uma pessoa comum ter armas não vai dar segurança¿.

O vice-presidente José Alencar, que tem mais de 70 anos, decidiu não votar por não ser obrigado em função da idade.

O prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), aproveitou pra criticar o governo, alegando que o voto no Não é um voto de protesto. Ele disse ter votado no Sim.

¿ Muita gente que votou Não protesta contra as precárias condições de segurança no Brasil ¿ disse o prefeito.

Para o líder da oposição na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), a vitória do Não significa a insatisfação da população com o governo.

¿ O povo revoltou-se pelo fato de ter sido chamado a responder a uma indagação que não era caso de referendo ¿ disse o deputado.

Já o senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), líder do partido no Senado, afirma que a população se sente ¿à mercê do crime¿ e, por isso, tanto o Sim quanto o Não são votos de protesto contra o governo.

¿ O grande adversário do Sim não foi o Não, mas o PT e o governo ¿ afirmou Raul Jungmann (PPS-PE), deputado federal e secretário geral da Frente Parlamentar Brasil Sem Armas.

Para a governadora Rosinha Matheus, que votou em Campos, no Norte Fluminense, o referendo foi um equívoco. Ela, que teve um irmão assassinado nos anos 70, disse que o governo errou ao deixar a decisão para a população.

¿ O governo federal empurrou isto para o referendo, mais uma vez como forma de lavar as mãos e não tomar uma posição ¿ disse.

Rosinha estava acompanhada do marido, Anthony Garotinho, pré-candidato do PMDB à presidência, que disse votar no Sim por ter sido ¿um dos primeiros a defender o desarmamento¿.

O prefeito Cesar Maia aproveitou para criar atrito com a governadora. Ao votar no Não, ele disse que a Campanha do Sim tentou manipular a população através do uso do cargo político.

¿ O governo do Estado usou o voto dos religiosos para politizar a discussão ¿ disse o prefeito.

Para o governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos (PMDB), que não quis revelar seu voto, o referendo foi desnecessário e fora de hora. Ele criticou os custos da consulta popular.

Até o deputado José Dirceu (PT-SP), deu declarações de cunho político ontem. Ao votar no Sim, ele defendeu o ex-tesoureiro Delúbio Soares, dizendo que não deveria ter sido expulso do PT, porque não roubou. O deputado, que está sofrendo processo de cassação, acrescentou que o referendo não foi um julgamento do governo.