Título: Eleitor também politiza a consulta popular
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, País, p. A2
Enquanto os políticos transformavam o referendo em palanque eleitoral, os eleitores do Rio foram às urnas sem poupar críticas à crise política que atravessa o país. Mais do que escolher entre Sim ou Não, as pessoas questionaram a importância e a legitimidade do referendo sobre o comércio de armas e munições. Algumas delas optaram por anular o voto, mais preocupadas em demonstrar a insatisfação com a corrupção do que o resultado da votação. Em Ipanema, a artesã Laudelina Rebecca da Silveira classificou como ''utópica'' a realização do referendo em meio à crise política. Segundo ela, o Brasil tem outras prioridades, como combater evitar a entrada de armas ilegais pelas fronteiras com os países sul-americanos.
- Meu voto não é brinquedo. Referendar comércio ou proibição de armas é a mesma coisa de perguntar quem nasceu primeiro, o ovo ou a galinha - afirmou ela.
Laudelina chegou à Escola Marília de Dirceu, em Ipanema, ao mesmo tempo que a dona de casa Olinda Santos e assistente social Antônia Gomes da Silva, que também anularam o voto por não concordarem com o referendo.
A descrença na capacidade do governo em conseguir conter a violência apenas com o controle do comércio formal de armas e a queda na popularidade do governo levaram a estudante Carmem Ribeiro e do engenheiro Vitorino Tavares que votaram no Gávea Golf Country Clube, a questionar a legitimidade do referendo. Vitorino argumenta que a votação é desnecessária, porque as armas que abastecem o crime vêm de outros países. Carmem afirma que votou Sim, porque acredita que o comércio de armas reforça o quadro de desigualdade social, porque indivíduos de renda baixa não podem adquirir armas, de forma legal.
-O referendo foi uma manobra política do governo para disfarçar o mensalão - disse a estudante.
Apesar de previsto em 2003, a crise política fez com que eleitores considerassem inoportuno discutir o tema do comércio de armas em um contexto de investigação das lideranças do governo.