Título: PT, enfim, expulsa Delúbio Soares
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, País, p. A8

Contra a vontade de integrantes do Campo Majoritário, ex-tesoureiro é afastado do partido por 37 votos a 16

SÃO PAULO - O Diretório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT) decidiu ontem pela expulsão do ex-tesoureiro Delúbio Soares. Antigo companheiro do presidente Lula, ele é o responsável confesso pela movimentação do caixa 2 que beneficiou o partido e aliados. Foram 37 votos pela expulsão, 16 votos por uma suspensão de três anos e três abstenções. Segundo o deputado João Paulo Cunha (SP), Delúbio Soares chorou durante a defesa, que foi apresentada em cerca de 20 minutos. Delúbio foi acompanhado de dois advogados para sua defesa. Ele chegou somente no começo da tarde, para a segunda parte da reunião do Diretório Nacional.

O senador Aloizio Mercadante (SP), que declarou ter votado pela expulsão de Delúbio, descreveu o ambiente da sessão como doloroso.

- O partido tomou uma decisão que é inevitável, uma decisão dolorosa, porque é um militante que dedicou 25 anos de sua vida ao partido - afirmou.

Antes de Delúbio apresentar sua defesa, o deputado José Dirceu (SP) pediu a ele que deixasse o partido. Delúbio, no entanto, recusou a idéia, dizendo que não conseguiria assinar um termo para deixar o PT. O ex-tesoureiro apresentou sua defesa depois da leitura do relatório da comissão de ética do partido, que pedia sua saída.

Pelo menos dois petistas que tiveram o nome envolvido no recebimento do mensalão preferiram não defender diretamente a expulsão do companheiro. O deputado Professor Luizinho chegou a elogiar o comportamento do o ex-tesoureiro:

-O Delúbio tem assumido uma defesa interna do PT e tem assumido encaminhamentos de forma determinada que, em alguns momentos, são merecedores de elogios.

Segundo ele, o fato de Delúbio ter assumido sozinho o ônus pelos repasses é uma mostra de que ele buscou resolver os problemas do partido.

O ex-deputado Paulo Rocha, que renunciou ao mandato, disse que a expulsão de um companheiro ''não é uma situação fácil''. Rocha recebeu por meio de uma secretária R$ 920 mil sacados das contas de Marcos Valério de Souza, por meio das quais os recursos ilegais eram repassados. Ele alega que o dinheiro foi usado em campanhas eleitorais do PT do Pará, do qual ele é presidente, em 2004.

O assessor de Luizinho, José Nilson dos Santos, sacou R$ 20 mil. O deputado alega que o dinheiro foi utilizado na pré-campanha de vereadores.

Outro petista que defendeu o ex-tesoureiro foi o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e membro do Diretório Nacional petista, João Felício.

- Outrora, o Delúbio era um gladiador bastante eficiente. Agora querem jogar o Delúbio na arena para que os leões possam devorá-lo. Eu não concordo com essa tese - afirmou.

O presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, foi na mesma linha de Felício.

- Nós poderíamos suspendê-lo por dois anos e estaria de bom tamanho, e continuar com investigações, nunca fugir da raia - afirmou. Frateschi rejeitou a idéia de que o ex-tesoureiro tenha cometido um ato de corrupção.

- O que ele fez foi a mesma coisa que o (presidente nacional do PSDB e senador Eduardo) Azeredo fez em Minas Gerais. O Azeredo inventou essa história (de uso de caixa 2).

Na semana passada, o ex-tesoureiro da campanha de Azeredo ao governo de Minas em 1998, Cláudio Mourão, confirmou que obteve recursos não contabilizados por meio de Valério para campanha.

O julgamento de ontem foi a última decisão do antigo Diretório do PT. A nova Executiva foi eleita por aclamação.