Título: 'Sim' culpa o governo e 'Não' quer discutir pena de morte
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Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, País, p. A4
Os líderes da campanha pelo Sim no referendo apontaram ontem a crise política e as acusações contra a gestão Lula como um dos fatores que interferiram no resultado da votação. O governo era um dos apoiadores da proibição da venda de armas e, na avaliação deles, a frente do Não utilizou isso e a falta de investimentos em segurança para tentar fixar a idéia de que a administração petista queria tirar foco do mensalão.
Antes mesmo do fechamento das urnas, convictos da vitória, líderes do Não, por sua vez, passaram a defender outras consultas populares sobre temas polêmicos, como idade penal mínima e prisão perpétua.
- Quem votou Sim votou por uma ojeriza às armas. O voto do Não acabou sendo um voto de capitalização do desencanto, do protesto, da falta de confiança no governo, nas instituições, na polícia, na segurança, no que está aí - afirmou Rubem César Fernandes, coordenador da ONG Viva Rio.
- O índice de reprovação do Lula e de aprovação do Não são muito semelhantes. O referendo, se tivesse acontecido dois meses antes ou três meses depois, seria outra coisa. O contexto político prejudicou muito e a campanha do Não soube explorar isso com muita competência - disse Denis Mizne, diretor-executivo do Instituto Sou da Paz.
Os defensores do Sim avaliam que a segurança pública vai pautar as eleições de 2006 e que a discussão do tema fez do referendo uma iniciativa útil, mesmo com os recursos gastos.
- Mas quem obrigou a ter referendo foi a turma do Não, que impediu a aprovação no Congresso - afirmou Mizne, acrescentando que a luta pela proibição do comércio de armas começou em 1997, com as ONGs, e depois ganhou fôlego no governo Fernando Henrique.
Eles apontaram falhas no programa de TV e tempo curto para discussões como razões que prejudicaram a campanha.
Líder da Frente Parlamentar Brasil sem Armas, Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, afirmou que ''pesou na decisão'' a ''omissão voluntária do governo federal em relação aos investimentos na área de segurança pública''.
A experiência agradou a Frente Parlamentar Pelo Direito da Legítima Defesa, que já quer usar a modalidade de consulta à população para outros referendos sobre questões polêmicas como maioridade penal e prisão perpétua.
- Uma pessoa de 12, 13 anos, se sabe o que está fazendo, tem de ser julgada - disse o presidente da Frente, Alberto Fraga (PFL). Hoje a maioridade penal no país é de 18 anos.