Correio Braziliense, n. 21786, 09/11/2022. Política, p. 4

Procuradores veem atos coordenados 

Luana Patriolino


Procuradores-gerais do Ministério Público nos estados de São Paulo, Santa Catarina e Espírito Santo se reuniram ontem com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Alexandre de Moraes, para tratar dos protestos contra o resultado nas urnas que ocorrem desde o último dia 30. Ele afirmaram ter identificado os empresários que estão bancando o fechamento de rodovias. 

Os integrantes destacaram, ainda, que os suspeitos fazem parte de “uma grande organização criminosa com funções predefinidas”. Segundo o procurador-geral de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Mario Luiz Sarrubbo, há um movimento organizado, liderado por empresários, para que os protestos continuem. “Nossa preocupação agora é o fluxo financeiro que está proporcionando bloqueios de estradas, avenidas, e faz com que pessoas possam permanecer em nossas cidades”, afirmou. 

Sarrubbo disse que identificou um padrão de comportamento em todos os atos. “Os movimentos são muito parecidos em todo o Brasil. Há algo em nível nacional. Nós trouxemos algumas informações ao TSE e a gente espera que o Brasil possa prosseguir sem golpe, sem movimentos que possam atacar a democracia”, observou. 

Desde o resultado das eleições, em 30 de outubro, parte da categoria dos caminhoneiros e outros apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) — derrotado nas urnas contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —  passaram a realizar protestos pelo país e fechar rodovias federais. Entre outras falas, os manifestantes pedem “intervenção federal” e destituição dos tribunais superiores. 

A reunião com o TSE foi marcada para que seja possível realizar um “cruzamento de dados” por meio de informações coletadas pelos estados. O objetivo é saber quem são os financiadores por trás da organização dos bloqueios, além de mapear o fluxo financeiro para a execução. 

A procuradora-geral de Justiça do Espírito Santo, Luciana Andrade, ainda afirmou que a atuação dos empresários pode envolver a criação de “listas” para impedir consumidores e empresários de utilizarem determinados serviços ou produtos locais como forma de retaliação. 

“A gente tem percebido um movimento também de empresariado que é criar uma lista de pessoas e empresários cujos consumidores não deveriam consumir ali produtos ou serviços. Estão criando embaraço à livre iniciativa do comércio, algo que não víamos há muitos e muitos anos”, afirmou Andrade. 

Na última segunda-feira, o ministro Alexandre de Moraes deu um prazo de 48 horas para as Polícias Civil e Militar dos estados e a Polícia Rodoviária Federal (PRF) identificarem os líderes dos atos que paralisaram parte das rodovias do país.