Título: Armas fazem 10 vítimas no Rio
Autor: Duilo Victor e Mariana Filgueiras
Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, País, p. A5
O domingo de votação sobre a proibição da venda de armas foi pontuado por episódios de violência no Rio de Janeiro. Desde a primeira hora de domingo até o fim da noite, pelo menos 10 pessoas foram vítimas de armas de fogo - dois mortos e oito feridos. Na Baixada Fluminense, traficantes de drogas trocaram tiros com policiais que guardavam urnas do referendo na Escola Municipal Manuel Gonçalo, em São João de Meriti. A suspeita é de que o bando teria tentado roubar as armas dos policiais. Depois de afastados pela reação dos policiais, que apreenderam uma menor de 15 anos com uma granada, os bandidos voltaram a atacar a escola. Na segunda investida, um dos criminosos foi baleado e o grupo acabou deixando para trás uma metralhadora Uru, calibre 9mm.
Um dos episódios mais graves ocorreu durante um jogo de futebol, numa favela do Leblon, na Zona Sul, por volta do meio-dia. Seis homens armados invadiram o campo e dispararam contra as pessoas que assistiam à partida nas arquibancadas. Armados com pistolas, os criminosos mataram o traficante Pirulito, que fazia parte de uma facção criminosa rival, e foram até o jogo, onde deixaram mais três pessoas feridas. O campeonato, que tinha sido organizado pelos moradores com música e churrasco, terminou em pânico e correria. A menor M., 17 anos, foi atingida no joelho direito. O autônomo Márcio Freitas, 34, correu para proteger o filho de 10 anos, mas foi atingido por uma bala no braço esquerdo e outra na perna direita. O motoboy Fabiano Conceição, 30 anos, foi baleado no tornozelo esquerdo. O estado de saúde dos três é estável.
Durante blitz do vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, vereador Carlos Eduardo Mattos (PP) na emergência do principal hospital da Zona Sul, o Hospital Municipal Miguel Couto, no Leblon, foi possível constatar que a unidade recebeu pelo menos cinco baleados durante o dia. Além das três vítimas do campeonato de futebol, dois jovens ainda estão sob cuidados, vítimas de armas de fogo.
O lutador Alexandre Marcelino Souza, 19 anos, foi atingido por um tiro na cabeça na localidade de Muzema, no Itanhangá, na Zona Oeste. A pessoa que o levou ao hospital não soube dizer a causa do disparo. A identificação do lutador foi feita por uma tatuagem que ele tem no ombro esquerdo, com o nome completo. Com traumatismo craniano, Alexandre respira com a ajuda de aparelhos e seu estado de saúde é considerado gravíssimo.
Às 6h, o autônomo Max Oliveira, 20 anos, deu entrada no hospital, baleado na perna. O motivo do disparo: ele não teve o que entregar em uma tentativa de assalto. Durante a madrugada, Max pegou um táxi e, quando passava por Botafogo, um carro escuro fechou o veículo. Segundo Max, o motorista anunciou o assalto e, quando percebeu que ele não tinha dinheiro, disparou duas vezes, fugindo em seguida. Um dos tiros acertou a sua canela esquerda. Max foi levado pelo taxista ao hospital, onde só foi atendido por volta das 13h.
A maior emergência da América Latina, a do Hospital Municipal Souza Aguiar, recebeu até o fim do dia dois baleados em um confronto entre traficantes no Morro da Mangueira, na Zona Norte.
Do outro lado da cidade, em Jacarepaguá, na Zona Oeste, uma briga entre dois irmãos, por motivos passionais, culminou com a morte de um deles. Os dois estavam numa festa quando discutiram e um deles sacou uma arma, disparando duas vezes. Os dois tiros atingiram as costas e a vítima morreu na hora.
- Num dia emblemático como hoje, é lamentável que tenhamos que assistir a este espetáculo de violência. Eu sinto que os votos todos traziam revolta contra a situação atual, tanto o ''Sim'' quanto o voto ''Não''. E isso vai continuar se repetindo. Quantos referendos serão necessários? Quantas famílias não estão chorando por causa de uma arma de fogo hoje? - lamentou a inspetora de Polícia Civil, Marina Maggessi, ao saber do número de pessoas atingidas durante o dia.