Correio Braziliense, n. 21787, 10/11/2022. Política, p. 4

Comboio se junta a protestos no QG

Rafaela Martins
Cássia Santos


Um grupo de aproximadamente 100 caminhões vindos do Mato Grosso chegou, ontem, ao Quartel General do Exército, na tentativa de aumentar a quantidade de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL), que há nove dias acampam no Setor Militar Urbano (SMU). Eles defendem pautas como intervenção militar por causa da vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na eleição presidencial, em 30 de outubro.

 
Morador do município de Diamantino, Lucas Rutilo, de 42 anos, estava entre os caminhoneiros que chegaram a Brasília após três dias de viagem. “Saímos do Mato Grosso no domingo, com objetivo de parar em Brasília. Nossa intenção é ficar acampado no Quartel General para aguardar o relatório do Ministério da Defesa, que apontará se houve fraude ou não nas urnas eletrônicas”, ressaltou o bolsonarista. A auditoria dos militares não apresentou nada que possa contestar o resultado da eleição.
 
Acompanhado da filha de 12 anos, Lucas disse que está “enfrentando uma guerra contra os poderosos que estão à frente do poder”. Para ele, a principal arma é a fé. “Antigamente, os guerreiros saíam com seus cavalos e iam para as guerras com suas armaduras em busca da liberdade para seu povo. A diferença é que, hoje, estou montado em um cavalo de aço e a minha armadura é a fé que tenho”, afirmou.
O agricultor Isaías Augusto da Silva, 67, saiu de Juara, a 50 quilômetros de Cuiabá, para vir na caravana de caminhoneiros a Brasília. Sem previsão de voltar para casa, repetiu o bordão bolsonarista que inunda as redes sociais de que houve fraude nas urnas.
 
“Viemos batalhar a favor do bem contra o mal. O novo governo ganhou porque os votos foram roubados”, afirmou, sem apresentar provas sobre o que disse.
 
Segurança
Com a chegada desse grupo, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) do Distrito Federal solicitou que a Polícia Militar (PMDF) escoltasse o grupo até o SMU para reduzir o impacto no trânsito da cidade. Ainda de acordo com a pasta, os caminhoneiros não terão um lugar específico para ficar.
 
Até a noite de ontem, os veículos estavam estacionados nas proximidades do Setor de Armazenagem e Abastecimento Norte (SAAN), aguardando autorização para ir ao QG, pois a Polícia do Exército bloqueou as entradas com cones. Além dos caminhoneiros, cerca de 20 carros também chegaram a Brasília para se juntar aos radicais.
 
Convocados, a PM, a SSP, o Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF), a Guarda Presidencial e a Polícia do Exército ficaram responsáveis pela área militar.
 
Depois que o ministro Alexandre de Moraes, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), determinou à Polícia Rodoviária Federal (PRF) que passasse à Corte as identificações e o registro das multas aplicadas desde que caminhoneiros tentaram bloquear as estradas contrariados com a vitória de Lula nas urnas, a corporação anunciou, ontem, que não há mais fechamento de rodovias.