Título: Senador do P-Sol responderá a processo
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2005, País, p. A3

Geraldo Mesquita terá que explicar cobrança de mensalinho depois de pedido feito por Heloísa Helena ao Conselho de Ética

BRASÍLIA - A senadora Heloísa Helena (PSol-AL) entrou com representação no Conselho de Ética do Senado ontem contra o colega de partido Geraldo Mesquita Júnior (AC). Geraldinho, como é conhecido, recolhe 40% dos salários de servidores de seu gabinete, conforme o Jornal do Brasil revelou ontem. No documento, a senadora pede que o senador do P-Sol esclareça a cobrança de mensalinho dos funcionários que, embora vinculados ao gabinete parlamentar no Senado, atuam em escritórios políticos no Acre. ¿ O P-Sol não aceita nos seus quadros ninguém envolvido com corrupção. Se for culpado, sai do partido ¿ assegurou Heloísa Helena.

Para fundamentar o pedido de investigação ao Conselho de Ética, a senadora solicitou ao JB as cópias das degravações das três conversas telefônicas entre a chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, a assistente parlamentar Maria das Dores Siqueira da Silva ¿ conhecida como Dóris ¿ e o ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire. Ao pedido, também foi anexada a reportagem publicada ontem. O próprio senador pediu investigação do caso.

¿ Coloco-me à disposição do Conselho para o cabal esclarecimento dos fatos ¿ disse ontem o senador Geraldo Mesquita, diante da iniciativa da colega.

Mais cedo, em entrevista por telefone a jornais e TVs, o senador acreano falou que o dinheiro era utilizado para comprar pó de café:

¿ Achei maldade porque não vejo irregularidade em se cotizar para comprar pó de café ou um funcionário disponibilizar o carro dele para ajudar ¿ disse o senador.

Transcrição das gravações publicadas ontem revelou que, em janeiro do ano passado, Geraldinho contratou o assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire que ganhava em torno de R$ 1 mil mensais líquidos, na condição de entregar todo mês R$ 410,00 ao senador. Em média, Paulo diz que ficava só com R$ 600 mensais. O funcionário foi demitido em dezembro do ano passado.

Mas a outra funcionária, a assessora parlamentar Maria das Dores Siqueira da Silva, garante, em conversa com o antigo colega, que continua até hoje tendo confiscos mensais em seu salário, com os quais quita as despesas do escritório político do senador no Acre. Depois que Paulo foi demitido do gabinete, Dóris teve pequeno aumento de salário e continuou pagando as despesas mensais como telefone, água, luz e aluguel, mais de R$ 1 mil mensais, que representam em torno de 40% de seu salário líquido.

Num dos trechos, a assessora parlamentar reclama com Paulo que, com a saída dele, agora ela assume sozinha as dívidas.

¿Tu ainda continua daquele mesmo jeito ainda, tirando do teu salário para pagar as coisas?¿, pergunta Paulo. ¿É, daquele mesmo jeito¿, lamenta Dóris, na gravação.

O mensalinho, se estiver sendo cobrado de todos os servidores lotados no gabinete, rende ao senador quase R$ 29 mil mensais. Os senadores têm R$ 15 mil por mês de ¿verba indenizatória¿ para cobrir despesas dos escritórios nos Estados, acrescidos de R$ 72 mil, usados para pagar servidores. O parlamentar do P-Sol, no entanto, considera a verba que recebe ¿insuficiente¿.

No P-Sol, a avaliação é de que a denúncia é muito grave e pode respingar na imagem do partido recém-criado. A própria Heloísa Helena não quis endossar as explicações do colega. Durante a entrevista, preferiu dizer que Geraldinho ¿insiste em assegurar sua inocência¿. Heloísa disse ainda que seu partido ¿não aceita estar na mesma pocilga do PT e de outras gangues¿. Questionada se a crise desembarcaria no Senado, a senadora foi taxativa:

¿ Nunca achei que a crise fosse restrita à Câmara. Eu nunca botei a mão no fogo pelo Senado, até para não virar churrasco.

O Conselho de Ética é formado por quatro senadores do PMDB, três do PFL, três do PT, dois do PSDB ¿ partidos, em tese, de oposição ao PSol. Entre os integrantes está o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), alvo de Geraldinho no caso dos grampos eletrônicos em 2003. Na ocasião, o senador, então no PSB, pediu a cassação de ACM por quebra de decoro, mas o pedido foi arquivado pela Mesa Diretora.