Correio Braziliense, n. 21788, 11/11/2022. Política, p. 5

Lula vê militares “humilhados”

Gabriela Ornelas


O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, ontem, que o resultado do relatório do Ministério da Defesa entregue na última quarta-feira ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) é “humilhante”. A auditoria feita pelos militares não apontou qualquer irregularidade nas urnas eletrônicas nas eleições de 2022 nem contesta o resultado, mas lança suspeitas — que passaram a alimentar grupos de radicais bolsonaristas — de que o sistema poderia ser violado, embora várias entidades reconhecidamente competentes no assunto assegurem que essa possibilidade não existe.

“Aconteceu uma coisa humilhante, deplorável para as nossas Forças Armadas: um presidente da República, que é o chefe supremo das Forças Armadas, não tinha o direito de envolver as Forças Armadas a fazer uma comissão para investigar urnas eletrônicas, coisa que é da sociedade civil, dos partidos políticos e do Congresso Nacional”, disse o presidente eleito ao se reunir com parlamentares, em Brasília.

Lula também cobrou do presidente Jair Bolsonaro (PL) um pedido de desculpas. “Não sei se o presidente está doente, mas ele tem a obrigação de vir à televisão e pedir desculpas para a sociedade brasileira, e pedir desculpas às Forças Armadas. Por ter usado as Forças Armadas, que é uma instituição séria, que é uma garantia para o povo brasileiro contra possíveis inimigos externos, que foi humilhada, apresentando um relatório que não diz nada, absolutamente nada daquilo que ele durante tanto tempo acusou”, ressaltou.

Ele ainda criticou Bolsonaro pelos ataques feitos aos integrantes do Poder Judiciário. Disse que o atual presidente criou um ambiente em que os magistrados não podem mais andar tranquilamente. “Os ministros da Suprema Corte não podem ir para o restaurante, cinema, sair de casa”, observou. E elogiou o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

“Não me importa se o Alexandre de Moraes é conservador, progressista, de direita, de centro. O que importa é que ele foi de muita dignidade na lisura e no compromisso de dirigir essas eleições”, salientou.

O presidente do TSE, por sinal, deu por encerrada a fiscalização do Ministério da Defesa no sistema eletrônico de votação. Ele indicou que o relatório apresentado pelos militares não terá desdobramento e o resultado da eleição será respeitado.

Questionado por jornalistas sobre as providências que adotaria a partir do pedido das Forças Armadas de instauração de investigação urgente sobre as urnas, Moraes afirmou: “Esse assunto já se encerrou faz tempo”.

Logo após a divulgação do relatório das Forças Armadas na noite de ontem, Moraes emitiu uma nota em que agradece o envio do documento destacando que o trabalho dos militares não aponta qualquer fraude ocorrida na eleição.

Já o vice-presidente e senador eleito Hamilton Mourão (Republicanos-RS) entrou na polêmica sobre o relatório dos militares endossando a versão do Ministério da Defesa de que os militares não tiveram acesso total ao sistema de votação. Tuitou, em mensagem cifrada, que “de uma eleição em que os meios se impuseram aos fins não há o que comemorar, apenas lições e responsabilidades a assumir” — sugerindo que o TSE teria trabalhado pela vitória de Lula. (Com Agência Estado)