Título: PSOL se reúne com Geraldinho
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, País, p. A8
O senador Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL-AC) tentou devolver a propina que cobrou durante um ano de seu ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire, que trabalhava no escritório do político no Acre. Reportagem publicada pelo Jornal do Brasil na sexta-feira revelou que Geraldinho cobra 40% dos salários dos funcionários do Senado lotados em seu gabinete.
Na terceira gravação obtida pelo JBde conversas de Paulo com a chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, Maria das Dores Siqueira da Silva, a 'Dóris', os dois combinam que a devolução da propina seria feita no gabinete de Geraldinho, em Rio Branco. Ela informa que Geraldinho viajaria ao Acre na sexta-feira somente para ''resolver'' a situação do ex-funcionário. O senador de fato foi ao Acre na última sexta-feira, mas o encontro com Paulo pode ter sido inviabilizado com a divulgação da cobrança do mensalinho.
Foi o que o senador deixou transparecer em entrevista ao JB na última quinta-feira:
- Não admito a cobrança de R$ 5 mil (valor que o ex-servidor entende que lhe é devido). Não há a menor hipótese de eu pagar. Havia um acordo. Pelo jeito, ele não entendeu o contexto. Isso cheira a chantagem - afirmou.
A terceira conversa entre Paulo e Dóris aconteceu na terça-feira passada. Em ocasiões anteriores, Paulo havia solicitado a devolução dos R$ 5 mil recolhidos em um ano de trabalho. Dóris diz a Paulo que Geraldinho teria marcado de recebê-lo na sexta-feira em seu no gabinete em Rio Branco. A razão do encontro do senador com o ex-auxiliar é exposta de maneira clara. Dóris promete inclusive pagar a passagem de volta para Paulo se o senador não devolvesse o dinheiro.
- Mesmo que ele não te passe em mãos... Eu arranjo dinheiro pra tu voltar - diz Dóris.
Nas conversas anteriores, Dóris revelou que continua a entregar parte de seu salário para pagar as despesas do escritório de Geraldinho. E reclama que, com a saída de Paulo, assume as dívidas sozinha. O Senado disponibiliza R$ 15 mil mensais de ''verba indenizatória'' para os senadores cobrirem despesas de escritórios como aluguel, água, luz, telefone, combustíveis. Mesmo assim, o senador considera a verba insuficiente.
Hoje, Geraldinho deve ser ouvido pelos colegas de partido em encontro no Senado. A denúncia caiu como uma bomba no PSOL, partido concebido sob o compromisso da ética por ex-petistas como a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL) e Luciana Genro (PSOL-RS).
Na última sexta-feira, Heloísa Helena, pré-candidata a presidente em 2006, se antecipou e protocolou no Conselho de Ética do Senado um pedido de investigação contra o colega. Se a cobrança irregular for comprovada, o senador pode sofrer processo por quebra de decoro parlamentar.
- Estou surpresa e chateada - confidenciou Heloísa a colegas na sexta.
O deputado Chico Alencar, ex-petista que acaba de se filiar ao PSOL, admite que a contribuição voluntária, tradição dos partidos de esquerda, precisa ter critérios estabelecidos.
- Que sirva de lição. Vamos discutir isso no Congresso do partido, no ano que vem. Deve ficar claro que a contribuição é voluntária - disse.