Valor Econômico, v. 20, n. 4963, 19/03/2020. Empresas, p. B6

Falta de máscaras se acentua no país

Rafael Rosas


A chegada da pandemia de coronavírus ao Brasil mudou rapidamente o panorama do mercado de produtos que podem ajudar a reduzir a disseminação do vírus. Além do aumento de procura por álcool em gel, as máscaras hospitalares sumiram das prateleiras de farmácias e lojas especializadas. Fabricantes das máscaras aumentaram turnos e elevaram a produção, mas ainda assim não conseguem atender a demanda. Mesmo assim, alertam para a possível falta do produto no futuro em hospitais, uma vez que parte dos insumos para a fabricação é importada da China, que destinou a produção ao seu mercado interno.

O presidente-executivo da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), Sergio Mena Barreto, afirma que a demanda por máscaras no varejo começou a aumentar quando o Covid-19 ainda estava circunscrito à China. “Era um produto de baixíssima venda nas farmácias, como o álcool gel. Desde as primeiras notícias na China, as farmácias venderam tudo o que tinham. Fizemos novos pedidos, mas encontramos o problema de a confecção ser feita com material da chinês e o país proibiu a exportação do material”, diz Mena Barreto. “O que tem [sendo fabricado] é de quem tinha estoque”, acrescenta.

O coordenador comercial da fabricante Protdesc, de Santa Bárbara D’Oeste (SP), César Pedro, destaca que a companhia tinha estoque das matérias primas para a produção das máscaras descartáveis. Ele explica que uma unidade tem três camadas, sendo duas externas de um não-tecido chamado TNT e uma interna de material filtrante. A matéria prima para essa camada interna é importada da China. “Nosso grande risco hoje é que o estoque de matéria-prima chegue ao fim”, diz Pedro, que acredita que um problema nesse sentido não ocorrerá em menos de 45 dias.

A Protdesc dobrou a produção de máscaras hospitalares descartáveis desde fevereiro. Atualmente são fabricadas pela companhia entre 5,5 mil e 6 mil caixas de 50 máscaras por dia e César Pedro ressalta que não há mais como elevar a capacidade. Ele explica que a empresa está “vendendo o futuro”, com contratos fechados para aquisição de unidades que só serão fabricadas daqui a 30 ou 45 dias. O foco da Protdesc é a fabricação para hospitais e lojas especializadas e, devido à alta na demanda, não estão sendo entregues a farmácias.

“Nossos grandes concorrentes eram empresas que importavam o produto. Hoje, a importação não vem”, explica Pedro, acrescentando que as fábricas nacionais atualmente têm de atender não apenas o aumento da demanda no país causado pela chegada do coronavírus ao Brasil, mas também as lacunas deixadas por importadores que não conseguem mais comprar máscaras devido à procura global.

A BrazilH2, de São Paulo, especializada na produção de tecidos hospitalares, decidiu iniciar a produção de máscaras para atender ao aumento da procura. Produzindo há pouco mais de uma semana, a companhia fabrica apenas máscaras de tecidos, que podem ser lavadas e reutilizadas. O uso em hospitais permite até 60 lavagens, enquanto a utilização doméstica propicia até 120 lavagens antes do descarte. A fundadora e presidente da empresa, Gislaine Toth, revela que atualmente produz 100 mil máscaras por mês, mas já negocia um contrato para exportar até 2 milhões de unidades em quatro meses, o que a obrigaria a elevar a produção em cinco vezes.

Ela faz coro ao alerta de que já há falta do produto no país - de descartáveis e de tecido. Se o contrato para exportação for firmado, Gislaine diz que não terá condições de abastecer o mercado interno. A empresa faturou no ano passado R$ 10 milhões com a fabricação de rouparia médica e prevê que este ano, apenas a confecção de máscaras cirúrgicas garanta receita de cerca de R$ 7 milhões.