Correio Braziliense, n. 21791, 14/11/2022. Política, p. 4

Bolsonaristas x STF em Nova York

Denise Rothenburg


Nova York — Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) aproveitaram a presença de ministros do Supremo Tribunal Federal para fazer uma manifestação em frente ao hotel onde eles estão hospedados em Nova York. São seis os ministros que cumprem agenda na cidade: Alexandre de Moraes, Cármen Lúcia, Dias Toffoli, Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso e Ricardo Lewandowski. Eles participam do primeiro painel da Lide Brazil Conference, em Nova York, com o tema “O Brasil e o respeito à liberdade e à democracia”. 

Também estarão no palco o ministro aposentado da Suprema Corte Carlos Ayres Brito e o ministro do Tribunal de Contas da União Antonio Anastasia, que acompanha os trabalhos do gabinete de transição representando o órgão de fiscalização. Com palavras de ordem como “Ei, Xandão, seu lugar é na prisão”, em referência ao ministro Alexandre de Moraes, o grupo só saiu da frente do hotel por volta das 18h (20h, no horário de Brasília).

Os bolsonaristas prometeram voltar hoje, às 6h da matina, no horário local, para acompanhar a saída das autoridades brasileiras do hotel para o Harvard Club, que fica a menos de 100 metros de distância.

A polícia de Nova York e a segurança privada reforçaram a segurança no local para evitar ameaças às autoridades. Neste domingo, o protesto foi pacífico. 

Uma senhora disse ao Correio que “não é possível o país ser governado por um ladrão, não podemos aceitar isso e estamos exercendo o direito de manifestação. Isso não nos pode ser tirado”, declarou ela, referindo-se ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. Hoje, ela prometeu voltar à frente do hotel para acompanhar a saída dos magistrados.

Nova York está acostumada a conviver com manifestações contra ou a favor de governos dos mais diversos países. No dia 20 de setembro, houve, inclusive, projeções de palavras de ordem em edifícios contra o presidente Jair Bolsonaro. O presidente também passou por dissabores quando ambientalistas se posicionaram em frente ao hotel em que ele estava hospedado, em 2019, quando ele esteve na cidade para a Assembleia Geral das Nações Unidas.

 

Apoio

Hoje, a manifestação será a favor de Bolsonaro, em um evento que reunirá a nata do empresariado nacional e grandes fundos de investimentos. O encontro do Lide Empresarial do Grupo Doria, do ex-governador de São Paulo João Doria, está com lotação esgotada para os dois dias de conferências. 

A abertura do evento está a cargo do ex-presidente Michel Temer, do presidente do Banco Master, Daniel Vorcaro, do presidente do Lide, João Doria Neto, e do chairman do Lide, Luiz Fernando Furlan. A mediação será do jornalista Merval Pereira. Neste primeiro dia, em que a liberdade e a democracia estarão em debate, a ideia de alguns era aproveitar o embalo e responder à carta dos comandantes militares, mas outros preferem deixar essa questão de lado. A maioria dos ministros defende a pacificação das relações entre os Poderes e isso ficará claro no debate de hoje, em que alguns pretendem, inclusive, reforçar a mensagem pela responsabilidade social, como defende o presidente eleito, tal e qual há hoje em relação à responsabilidade fiscal.

Amanhã, será a vez de economistas e integrantes do mercado financeiro, como o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que continuará no cargo até 2024, porque tem mandato. Também estão em Nova York para o Lide Brasil Conference nomes como Pérsio Arida, que presidiu o BC durante um período do governo Fernando Henrique Cardoso e, hoje, integra a equipe de transição de Lula, e Joaquim Levy, ministro da Fazenda no governo de Dilma Rousseff. 

Os economistas ouvidos pelo Correio comemoraram a confirmação da candidatura de Ilan Goldfajn para a Presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Na semana passada, o ex-ministro Guido Mantega, que integra a transição, enviou uma cara ao organismo multilateral pedindo o adiamento da eleição porque a indicação de Goldfajn foi feita pelo ministro da economia, Paulo Guedes. Segundo Mantega, Lula queria indicar outro nome, mas o banco de fomento não alterou a data da escolha e manteve os nomes indicados até agora.

 

(Jornalista viajou a convite do Lide)