Título: Dia Mundial das Missões
Autor: D. Eugenio Sales
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2005, Outras Opiniões, p. A11
Anos atrás, no interior da África, ouvi de um chefe de Estado, a quem visitava, ao agradecer a acolhida: ''Obtenha mais religiosas missionárias para este país''. Ele era muçulmano, governava um povo onde os cristãos constituíam-se uma pequena minoria. Esta solicitação representava o reconhecimento do trabalho civilizador que a Igreja exerce. O Dia das Missões, celebrado anualmente no último domingo do mês de outubro, chama nossa atenção para a primordial tarefa que nos foi confiada: pregar a fé cristã. Ela é, inseparavelmente, um compromisso com o homem todo e todos os homens, cristãos ou não. Dizia o papa Paulo VI: ''A evangelização já constitui, de per si, um coeficiente de suma importância. Também para o desenvolvimento dos povos e para a promoção da justiça no mundo'' (discurso em 24 de outubro de 1971). A tarefa fundamental é cumprir o anúncio da fé cristã, por ordem do Senhor Jesus: ''Ide e ensinai'' (''Ad Gentes'',33). Muito clara a orientação. Contudo, ''a Igreja proíbe severamente que alguém seja coagido a abraçar a fé, e que seja induzido ou aliciado por meios importunos'' (''Ad Gentes'',13). Contudo, grave dever é o anúncio explícito do Redentor, pois propor não é impor.
Cada ano a Igreja, em todo o mundo, após a devida preparação, procura cumprir seu dever de anunciar o Cristo Jesus, Salvador do mundo. Com antecedência, é divulgada uma mensagem do santo padre, como preparação.
Tais mensagens representam a importância do trabalho missionário e revelam a esperança do santo padre no zelo dos fiéis em favor de tão importante causa para o bem da Igreja de Deus. Como exemplo, cito o conteúdo das mensagens nos últimos anos do Pontificado de João Paulo II. Desde logo, lembro que ele, antes de morrer, já havia divulgado o documento para este ano de 2005 e, portanto, mesmo após sua morte, está em nossos dias bem vivo o seu zelo pela causa.
A mensagem do santo padre para o Dia Mundial das Missões de 2003 tinha o tema: ''Maria e a Missão da Igreja no Ano do Rosário'' e recordava que: ''o dever missionário deve continuar a ser um compromisso sério e coerente de todo batizado e de cada comunidade eclesial''. Para o ano de 2004 escolhera o tema ''Eucaristia e Missão'' e nos advertia: ''Os desafios sociais e religiosos que a humanidade enfrenta em nossos tempos estimulam os fiéis a renovarem-se no fervor missionário. Sim! É necessário relançar com coragem a missão 'Ad Gentes', partindo do anúncio de Cristo, Redentor de toda criatura humana''. A mensagem de João Paulo II lembrava: ''Para viver da Eucaristia é preciso, além disso, consumir tempo em adoração diante do santíssimo sacramento, experiência que eu mesmo faço todos os dias tirando daí força, consolação e sustento''. Na mensagem para o Dia Mundial das Missões, em 23 de outubro de 2005, a idéia fundamental é: ''A missão a serviço da paz''. Missão: ''Pão partido para a vida do mundo''. Vamos abrir a inteligência e o coração ao nosso dever missionário, pois este é o encargo mais importante e sagrado da Igreja (''Ad Gentes'', 25).
A atividade humanizadora é uma das belas características da missão católica. Por onde tem passado, através dos séculos, implanta e faz crescer a sua obra civilizadora. Em nossa pátria, a figura do sacerdote se projeta nas páginas de nossa história, desde nossos primórdios. Hoje, aí está ele nas cidades, nos subúrbios, no interior e nas florestas. Nossos missionários, em parte, estrangeiros, são uma glória para o nosso país, pelo seu devotamento ao progresso do Brasil.
Não nos esqueçamos, entretanto, de que a tarefa primordial da missão católica é levar o nome de Cristo aos que não O conhecem ou recordá-lO aos que O esqueceram.
A evangelização dos povos decorre de nossa fé. Este esforço é a manifestação da vontade salvífica de Deus. O Senhor veio remir todos os homens. Para operar esta transformação, necessário se faz ser conhecido e amado. Os que dedicam a sua vida a este mister - e todos estão obrigados, embora em graus diversos - são instrumentos do plano redentor do Cristo. O dever de anunciar a palavra é ordem expressa do Mestre: ''Ide, portanto, e fazei que todas as Nações se tornem discípulas, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo e ensinando-as a observar tudo quanto vos ordenei. E eis que eu estarei convosco todos os dias, até a consumação dos séculos!'' (Mt 28,19-20).
Como proceder? Como dar a nossa colaboração? Como responder ao apelo do papa no Dia das Missões? Há muitas formas possíveis de obedecer a este mandato do Senhor.
É muito mais amplo, em nossos dias, o conceito de terra de missão. Não se restringe a algumas regiões geográficas.
Assim, uma vida realmente cristã é uma pregação viva no meio onde a providência nos colocou. Além disso, fortalecer a fé em nossa comunidade é acender um fogo que, necessariamente, vai se difundir, irradiando a outras terras os ensinamentos do Mestre.
A chama da caridade, acesa no coração dos cristãos, faz-nos sentir responsáveis diante das necessidades do mundo inteiro. Não basta, portanto, pregar o nome do Senhor em nosso pequeno círculo, em nossa terra, à nossa gente, quando há milhões que não conhecem o Redentor. ''Mas como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão falar, se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?'' (Rm 10,14-15). Diz o Concílio: ''Obrigados se acham todos os fiéis ao dever de cooperar na expansão da Igreja de Cristo''. ''Convençam-se todos de sua responsabilidade para com o mundo'' (''Ad Gentes'',36).
Estamos comemorando o Dia das Missões. A elas se destina a coleta deste domingo. Sejamos generosos, para maior eficácia desta obra evangelizadora no Brasil e no mundo inteiro. Toda fé autêntica é missionária.
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Diante das tentativas abortistas, respeitosamente lembro aos parlamentares e seus eleitores, em nome de Deus, o grave dever de consciência de proteger a vida no seio materno. Motivo algum justifica a supressão dessa vida inocente e indefesa, mesmo às custas de quem a gerou.