Título: Risco de novo racionamento reabre debate sobre Angra 3
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 24/10/2005, Economia & Negócios, p. A20

A possibilidade de um novo racionamento de energia até 2010 deve reabrir o debate no governo sobre a necessidade de construção da usina termonuclear Angra 3.

Na avaliação do consultor Evaldo Césari de Oliveira, presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento das Atividades Técnicas e Industriais nas Áreas Nuclear e Térmica (Abdan), a conjugação de fatores como as dificuldades de licenciamento ambiental para usinas hidrelétricas e os altos preços de alternativas energéticas, como o óleo diesel e o gás natural, reforçam os argumentos em favor da usina, que poderia gerar uma carga a preços competitivos.

Ex-presidente da Eletronuclear e responsável pela execução do projeto de Angra 2, o executivo admite que Angra 3 não ficaria pronta até 2010. Sua construção, no entanto, minimizaria os riscos de eventuais desabastecimentos na próxima década. Se fosse aprovada até o fim deste ano, a usina iniciaria operações por volta de 2011.

Quanto aos riscos de um novo racionamento de energia em 2010, o executivo afirma que, de acordo com o atual modelo energético, tudo dependerá da hidrologia - da quantidade de chuvas do período - não só do ano de 2010, mas dos dois anos anteriores.

- O racionamento de 2001 não ocorreu só porque choveu pouco naquele ano, mas porque choveu pouco nos dois anos que antecederam o racionamento - afirma Oliveira.

No governo, a maior resistência à usina é a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, que ensaiou com seu antecessor na pasta, José Dirceu, uma pesada disputa por sua aprovação. Executivos do setor afirmam que a posição da ministra calca-se mais em critério econômico do que ambiental.

Pragmática, ela teria no presidente da Empresa de Planejamento Energético (EPE), Mauricio Tolmasquim, o principal interlocutor nessa questão. Ao contrário de Dilma, afirmam os executivos, a oposição de Tolmasquim está lastreada em critérios ambientais. Em uma situação de risco de desabastecimento, quando os preços de todas as fontes de energia ficariam mais caros, a tendência é a distensão na oposição da ministra.

Oliveira acredita que o grande teste para o novo modelo do setor elétrico será o leilão de 16 de dezembro, com a licitação de novos contratos de geração. Segundo ele, os preços da energia no país devem aumentar.

Embora um parecer do Ministério de Minas e Energia - apresentado na última reunião do Conselho de Política Energética (CNPE) - tenha mensurado o custo da energia de Angra 3 em R$ 180/MWh, a Abdan afirma que esse preço não superaria R$ 140/MWh. Segundo o consultor, o relatório do ministério se baseou em premissas irreais.

O documento teria considerado um prazo de oito anos para a construção da usina, além de um período de um ano e meio para operações em fase de teste. Ele afirma que a usina poderia não só começar a operar três meses após a construção, como levaria um máximo de seis anos para ser montada.

- O custo da energia de uma boa usina termelétrica a gás também sai por R$ 140/MWh. A óleo diesel, por outro lado, pode chegar a R$ 500/MWh em função do alto custo do petróleo no mercado internacional. Por isso não dá para argumentar que Angra 3 não seria competitiva - justifica o ex-presidente da Eletronuclear.