Correio Braziliense, n. 21795, 18/11/2022. Política, p. 4

Petista reaproxima Brasil de Portugal

Vicente Nunes
Correspondente


Lisboa — Embalado pela passagem vitoriosa na 27ª Conferência Internacional do Clima das Nações Unidas (COP27), no Egito, onde foi a estrela principal, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva desembarca, hoje, em Portugal, com a missão de retomar as relações com o país europeu. Nos últimos quatro anos, houve um grande distanciamento entre as duas nações, com o presidente Jair Bolsonaro (PL) não economizando nas desfeitas ao presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa. Nas duas últimas vezes em que ele esteve no Brasil, teve um almoço com o atual ocupante do Palácio do Planalto cancelado e, nas cerimônias do 7 de Setembro, foi trocado por um empresário apoiador do governo, imagem que rodou o mundo e causou profundo incômodo no Palácio de Belém.

Toda a viagem de Lula a Portugal — ele retorna para o Brasil amanhã — está sendo conduzida pelo governo português. A meta é dar ao presidente eleito tratamento de chefe de Estado, mesmo que ele ainda não tenha tomado posse. Tanto o presidente português quanto o primeiro-ministro, António Costa, têm reiterado a satisfação de receber o petista. Ambos dizem estar com saudades do Brasil e de Lula.

Além da reaproximação política entre as duas nações, Lula deve focar parte das conversas com os anfitriões no forte crescimento da comunidade brasileira em Portugal. Oficialmente, há cerca de 250 mil cidadãos do Brasil com registro oficial. Mas se acredita que esse número passe de 400 mil com os ilegais.

Há uma euforia enorme entre brasileiros, que veem Portugal como um eldorado. Mas a realidade da economia portuguesa tem levado muitos à frustração. Depois de décadas, o país voltou a conviver com inflação — a taxa anualizada está acima de 9% —, os juros apontam para cima, a pobreza cresceu — 4,5 milhões de cidadãos vivem com menos que um salário mínimo por mês (705 euros ou R$ 3,8 mil) —, os preços dos aluguéis estão impraticáveis, não há renda suficiente para se comprar uma moradia e muitos especialistas não descartam uma recessão no próximo ano. Nesse quadro que tem semelhanças com o Brasil, disparou o número de conterrâneos de Lula pedindo ajuda para voltar para casa.