Título: De volta às origens
Autor: Ricardo Rego Monteiro
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, Economia & NEGÓCIOS, p. A24
Para reverter queda nas vendas, distribuidoras de gás de botijão planejam incentivar uso do produto como reserva energética
De olho em um possível racionamento de energia que, segundo especialistas, poderia ocorrer mesmo antes de 2009, as distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo (GLP), ou gás de botijão, já começam a traçar planos para reverter a tendência de queda das vendas do produto verificada desde 2000. Embora o mercado residencial hoje responda pela maior fatia das vendas de empresas como Ultragaz, Liqüigás e SHV Gás, a indústria é considerada fundamental para a recuperação desse mercado. O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras de Gás Liqüefeito de Petróleo (Sindigas), Sérgio Bandeira de Mello, afirma que o ideal seria a adoção, pelas indústrias, do procedimento comum no mercado europeu: a utilização do GLP como sistema sobressalente do gás natural. Aqui, como lá, explica, o produto poderia ser armazenado em granéis e ser utilizado em momentos de escassez do gás natural.
¿ O GLP poderia ser utilizado como back up, um seguro-apagão para as indústrias que viessem a sofrer com a falta do gás natural ¿ justifica Bandeira de Mello, ao lembrar que, desde abril, quando eclodiu a crise boliviana, algumas indústrias já começaram a recontratar carregamentos de GLP, a partir do conceito de back up.
A favor do GLP, enumera o executivo, pesam fatores como preço ¿ mais barato que o gás natural ¿ e o fato de ser encontrado agora com mais facilidade no mercado brasileiro. Se no início da década de 90 o Brasil importava praticamente 80% do GLP consumido, atualmente não adquire mais do que 4% do consumo total de 6,4 milhões de metros cúbicos no exterior.
Embora admita que muito dessa redução tenha sido obtida com a perda de mercado para o gás natural, Bandeira de Mello afirma que a produtividade das refinarias brasileiras também contribuiu para a maximização da produção do insumo frente aos demais derivados. Isso ocorreu como resultado dos investimentos da Petrobras na conversão dessas unidades de refino, o que permitiu a extração de maiores frações de GLP.
Embora Bandeira de Mello tenha se negado a comentar o assunto, entre os empresários do setor prevalece quase um consenso sobre a tendência de racionamento energético por conta principalmente da oferta escassa de gás natural no período. Diante disso, argumentam esses executivos, será praticamente inevitável um aumento da demanda por alternativas como o GLP.