Título: O contra-ataque dos fumantes
Autor: Duilo Victor
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, Rio, p. A26
Expulsos dos bares e restaurantes com ambientes fechados, tabagistas forçam mudanças nas casas, que criam áreas exclusivas
Ameaçado pela lei que proibe o fumo em ambientes públicos fechados, o casamento chopinho-cigarrinho enfrenta uma de suas piores crises desde agosto, quando a fiscalização obrigou o cumprimento da medida no Rio. A ausência dessa fatia significativa da boemia, no entanto, já começa a dar resultados - claro, em favor dos fumantes. Alguns templos da vida informal, como o centenário Bar Luiz e o tradicional Nova Capela, armam estratégias para trazer de volta a turma do cinzeiro. Clientes mais fiéis já partiram para o contra-ataque. Insatisfeitos com o que consideram um radicalismo da Lei Federal 9.294 de 1996, exigem um meio-termo. Reconhecem o direito à saúde dos que não fumam, mas já deixam de freqüentar lugares onde diversão e fumaça não podem conviver.
- Numa repartição pública ou escola tudo bem, mas num bar a boemia perde um pouco sua identidade. Tem que haver um espaço de convivência que garanta direitos de fumantes e não-fumantes - defende a geógrafa Claúdia Macedo, 37 anos, freqüentadora do Bar Brasil, na Rua Mem de Sá, na Lapa - A proibição vai mudar a clientela como foi no Baixo Gávea, quando os bares passaram a fechar mais cedo - completa.
O Bar Brasil é um dos que ainda permitem o cigarro, partindo para a brecha de que o ambiente é bem ventilado. Por isso, vem agregando fumantes de bares vizinhos.
Sem saber ainda quanto faturamento perdeu, Francisco Soares, do Nova Capela, estima que pelo menos 80% dos fregueses que pedem um chope acendem, em seguida, um cigarro. Para cumprir a lei, ele agora tem que mandar os clientes fumarem do lado de fora. Apesar de a lei federal vigorar há quase dez anos, só no ano passado a Vigilância Sanitária Municipal passou a advertir os estabelecimentos.
- Já penso em abrir um bar num imóvel que fica ao lado para fazer uma área exclusiva para fumantes. Ou ainda abrir mão do ar-refrigerado depois da meia-noite e abrir todas as janelas para ventilação natural e receber essa clientela - explica Soares, que antes de investir vai esperar para ver se a lei pega.
No Bar Luiz, o impacto da proibição ainda não foi sentido. Segundo o gerente Emerson Coelho, sem poder fumar, os clientes acabam consumindo mais, principalmente os petiscos. Mas sem pensar em perder a clientela que gosta de cigarro, ele propõe um meio-termo:
- Essa lei é discriminatória, sem cigarro a boemia pode acabar. Deveria ser permitido um terceiro turno, de 1h às 5h, por exemplo, só para fumantes - opina.
Logo que o bar aderiu a uma campanha do Instituto Nacional do Câncer e fez valer a lei, Emerson teve que adotar uma campanha educativa com panfletos nas mesas para alertar os fumantes mais insistentes.
- Só estamos hoje no Bar Luiz porque fomos convidados por amigos. Mas sempre que possível evitamos os lugares que proíbem. A boemia vai mudar e os restaurantes que não atraem o público mais jovem da geração saúde vão ter que se adaptar - comenta o militante político Alexandre Calazans, 29 anos.
Dono de um restaurante com mesas ao ar livre em Ipanema e outro no subterrâneo do Centro (a rede ViaSete), Ricardo Stern diz que quer incentivar a liberdade dos clientes e vai abrir em 15 dias uma nova casa, acima do Viasete subterrâneo no Centro. O estabelecimento vai ter varandas onde será permitido o cigarro:
- Antes de tudo, os ambientes ao ar livre têm a cara do Rio, não são feitos só para fumantes.