Valor Econômico, v. 20, n. 4964, 20/03/2020. Política,

Alvo de novo panelaço, Bolsonaro perde apoio nas redes

Carolina Freitas



O presidente Jair Bolsonaro perdeu apoio nas redes sociais depois da chegada ao Brasil da pandemia de coronavírus, aponta estudo do Torabit com base em 4,1 milhões menções ao nome do político. Ontem Bolsonaro voltou a ser alvo de panelaços e gritos de “Fora” entoados das janelas em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife. As manifestações já haviam acontecido anteontem.

Analistas da plataforma de monitoramento digital observaram, por 40 dias, publicações no Twitter, Facebook, Youtube, Instagram, blogs e sites que citavam Bolsonaro. Foram 20 dias antes do primeiro caso confirmado de infecção por covid-19 no país, de 6 a 26 de fevereiro, e outros 20 dias depois desse marco, de 27 de fevereiro a 17 de março. Do primeiro para o segundo momento, houve uma queda nas menções positivas ao presidente de 27% para 21% do total. Citações com teor negativo subiram de 30% para 41% do total. Ao mesmo tempo, menos gente ficou neutra - passou de 43% para 38%.

As palavras que acompanham o nome do presidente nas menções mudaram. Antes, Bolsonaro aparecia na internet associado a “imprensa”, “Congresso” e “PT”. Agora, vem acompanhado de “impeachment”, “panelaço” e “coronavírus”.

“Aumentaram as críticas ao presidente no ambiente digital”, afirma o co-fundador do Torabit, o jornalista Caio Túlio Costa. “É um impacto significativo, ainda mais quando levamos em conta o fato de Jair Bolsonaro ser historicamente forte nas redes sociais. ”

Como o recorte da pesquisa é o antes e o depois do primeiro caso da doença, é possível relacionar a perda de apoio de Bolsonaro nas redes à avaliação que a população fez das atitudes do presidente.

Em outra análise, centrada nos temas mais populares no Twitter, os trending topics (TTs), o levantamento mostra que as palavras de apoio a Bolsonaro deram lugar a críticas ao presidente. Antes, 76% do que entrava nos TTs era a favor de Bolsonaro e 24%, contra. Agora, 47% a favor e 53% contra.

Bolsonaro vem tendo uma postura errática diante da pandemia. Na maior parte do tempo, classificou recomendações das autoridades da área da saúde como “histeria” e “fantasia”. Viajou aos Estados Unidos quando a doença estava em ascensão lá e trouxe na comitiva 17 pessoas infectadas. Bolsonaro diz que o seu exame deu negativo para covid-19.

Quando os casos no Brasil começavam a se multiplicar, Bolsonaro pediu que fossem cancelados atos de apoio ao governo. No dia das manifestações, no entanto, o presidente decidiu conversar, apertar a mão e tirar foto com as centenas de pessoas que ali estavam. A essa altura, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia decretado pandemia o Ministério da Saúde recomendava que se evitasse aglomerações. Questionado sobre a atitude, Bolsonaro respondeu: “Eu não tô preocupado com isso, eu tomo as minhas devidas precauções”.