Valor Econômico, v. 20, n. 4964, 20/03/2020. Finanças

Ação de BCs sustenta recuperação no exterior

André Mizutani e Rafael Vazquez


Os bancos centrais gastaram ainda mais munição para conter os estragos causados pelo coronavírus na economia e conseguiram alimentar uma modesta recuperação dos mercados acionários globais. O humor era negativo no começo do dia, mas melhorou depois que o Banco da Inglaterra (BoE) anunciou, durante a manhã de ontem, um novo corte de juros de 0,15 ponto percentual, levando a taxa a 0,10%. Além disso, o banco central britânico também anunciou a retomada do seu programa de compra de títulos, com expansão do balanço da instituição para 645 bilhões de libras.

Os índices acionários reagiram bem aos estímulos do BoE, virando para terreno positivo e segurando ganhos modestos até o fim da sessão, com o índice pan-europeu Stoxx 600 fechando o dia em alta de 2,91%. O FTSE 100, índice de referência da bolsa de Londres, subiu 1,40%.

A reação em Wall Street também foi positiva. Após ajustes, o Dow Jones fechou em alta de 0,95%, enquanto o S&P 500 avançou 0,47% e o índice eletrônico Nasdaq subiu 2,30%. O índice VIX de volatilidade, que disparou a nova máxima histórica na segunda-feira, caiu 5,82%, a 72 pontos, mas ainda se mantém próximo do recorde, de 82,69 pontos.

A decisão do BoE seguiu a esteira de uma outra intervenção do Banco Central Europeu (BCE), que anunciou na noite de quarta-feira um novo programa de compra de títulos de € 750 bilhões, destinado a proteger a economia da região. Além da ampliação do volume de compras, o pacote será mais flexível em relação aos ativos que podem ser comprados, com o intuito de aliviar as preocupações com os países mais endividados da zona do euro, como a Grécia.

O Federal Reserve (Fed, o BC americano), que tem feito atuações mais agressivas nas últimas semanas, anunciou novos swaps cambiais com BCs estrangeiros, incluindo o do Brasil. Além da atuação do Fed, o Congresso dos EUA está debatendo uma proposta do governo Donald Trump de gastar US$ 1 trilhão em estímulos, incluindo ajuda para companhias aéreas e pagamentos diretos a famílias americanas.

Somaram-se também aos esforços contra o estrago causado pelo coronavírus os bancos centrais de África do Sul, Austrália, Filipinas, Taiwan e Indonésia, que anunciaram cortes em suas taxas de juros de referência.

Fora dos mercados acionários, o petróleo anotou uma recuperação significativa após a notícia de que os Estados Unidos podem intervir diplomaticamente na guerra de preços entre a Arábia Saudita e a Rússia, que tem prejudicado os valores da commodity.

O contrato do petróleo Brent para maio fechou em alta de 14,42%, a US$ 28,47 por barril, enquanto o do WTI para abril subiu 23,80%, a US$ 25,22. Os ganhos da sessão de ontem apagam a forte queda de quarta-feira, quando o WTI recuou 24% e o Brent cedeu 13%.

Os títulos americanos, que têm sofrido forte pressão com os investidores vendendo ativos em busca de caixa, também tiveram uma sessão de alívio. O juro dos papéis de dez anos, que se move na direção oposta à dos preços, fechou ontem em 1,12%, de 1,18% do encerramento anterior, enquanto o de dois anos recuou a 0,44%, de 0,54% da quarta-feira.