O Globo, n. 32587, 26/10/2022. Política, p. 9

Vítimas de assédio na Caixa reagem a fala de presidente



Advogadas de funcionárias da Caixa Econômica Federal que acusam Pedro Guimarães, ex-chefe do banco estatal, de assédio sexual classificaram ontem de“estarrecedora” uma entrevista do presidente Jair Bolsonaro (PL), em que ele diz não ter visto “nada contundente” nos depoimentos das vítimas. As denúncias, em junho, levaram à demissão de Guimarães, um dos auxiliares mais próximos do presidente.

— Não vi nenhum depoimento mais contundente de qualquer mulher. Vi depoimentos de mulheres que sugeriram que isso poderia ter acontecido. Está sendo investigado — disse Bolsonaro na segunda ao site Metrópoles.

O presidente também foi criticado pela senadora Simone Tebet (MDB), que apoia Lula( PT) e chamou a fala de “absurda” por não defender as vítimas, dar voz ao agressor e relativizar as denúncias.

Os relatos embasam denúncia do Ministério Público do Trabalho à Justiça que pede a condenação de Guimarães e de outros executivos da Caixa e R$ 30,5 milhões em indenizações. A Caixa concluiu apuração interna, mas não o divulgou. O documento, revelou ontem o Jornal Nacional, conclui que há “indícios de irregularidades de índole sexual” por parte de Guimarães, que nega.

A nota das advogadas afirma que é “motivo de tristeza que condutas como apalpar seios e nádegas, beijar e cheirar pescoços e cabelos, convocar funcionárias até seus aposentos em hotéis sob pretextos profissionais diversos e recebê-las em trajes íntimos, além de constantes convites para ‘massagens’, ‘banhos de piscina’ ou idas a ‘saunas’ sejam naturalizados e tidos como ‘não contundentes’” por Bolsonaro.

As defensoras questionam qual seria a visão dele se entre as vítimas estivessem sua mulher ou filha . “Além de mulheres, também somos esposas, filhas, mães e profissionais que foram abusadas, lesadas e agredidas (...). E, assim como em suas duras e desprezíveis palavras, fomos desacreditadas e relegadas à nossa própria sorte pela instituição que deveria garantir nossa integridade”, diz o texto.