Título: Fraudes em concursos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, Brasília, p. D2

Desde segunda-feira a Justiça Federal ouve os acusados de participar ou se beneficiar da chamada máfia dos concursos. São 44 pessoas sob suspeita, algumas na condição de rés confessas. Trata-se de quadrilha especializada em fraudar não só concursos para órgãos públicos como também vestibulares de universidades de todo o País. Infelizmente o Centro de Seleção e Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília está entre os órgãos fartamente mencionados na investigação. Registre-se que a exata posição do Cespe nunca ficou muito clara nas apurações. Dirigentes do órgão chegaram a ser ouvidos, mais na qualidade de investigados do que de testemunhas, sem que houvesse conclusões definidas. Um ex-funcionário da entidade admitiu envolvimento com a quadrilha, porém uma vez mais não se divulgou qual seu real papel na história e, principalmente, em que medida a instituição se viu envolvida em tudo isso.

À parte a questão do Cespe, que adquire relevo diante da importância da UnB no Distrito Federal, o escândalo da máfia dos concursos permanece como um desafio à opinião pública. Claro, o Judiciário tem um rito a cumprir, o que inviabiliza punição rápida dos envolvidos, por maior que seja sua culpabilidade. Mesmo assim, a libertação deles, ocorrida logo após sua detenção e incluindo até os cérebros dos golpes, dá a impressão de certa laxidão por parte das instituições.

Pior do que isso, fica em suspenso a posição dos principais beneficiários das operações das quadrilhas, os que pagaram para obter as vagas oferecidas nos concursos. Se o golpe deu certo - e aparentemente isso ocorreu em certo número dos casos - fraudadores de carteirinha estão hoje no exercício das funções que obtiveram de forma absolutamente imoral e ilegal. Com eles nada aconteceu. E todos sabem que, quanto mais passar o tempo, tanto mais difícil fica seu afastamento e sua responsabilização