Correio Braziliense, n. 21797, 20/11/2022. Política, p. 2

Lula garante: PT não terá todos os espaços

Vicente Nunes


Lisboa — Às vésperas de anunciar os integrantes de seu ministério, o preside eleito Luiz Inácio Lula da Silva mandou um recado, ontem, ao PT, durante encontro com movimentos sociais que atuam em Portugal. Segundo ele, o seu terceiro governo não será só do partido pelo qual se elegeu; será composto “por mais gente da sociedade, com mais gente de outros partidos e com mais gente que não tem partido”. Com esse discurso, ele tenta conter a pretensão de petistas, que vêm se digladiando nos bastidores por cargos e causando constrangimentos na equipe de transição. Aprendemos a ganhar, e temos de saber que esse governo não pode ser só do Partidos dos Trabalhadores”, avisou

Lula — que teve encontros com o presidente de Portugal, Marcelo Rebelo de Sousa, e com o primeiro-ministro português, António Costa — aproveitou o discurso aos militantes no Instituto Universitário de Lisboa para reforçar o seu compromisso com a responsabilidade fiscal, numa clara sinalização de que quer paz com o mercado financeiro, que teme pelo desequilíbrio das contas públicas por causa da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que retira as despesas do Bolsa Família do teto de gastos. O compromisso com o ajuste fiscal foi feito com o ex-ministro da Educação Fernando Haddad — cotado para ser ministro da Fazenda — no palco.

“Sabemos que a gente não pode gastar mais do que a gente ganha. Mas podemos gastar com habilidade para fazer o país crescer, melhorar do ponto de vista logístico”, frisou.

O presidente eleito ressaltou que, seguindo o pensamento da responsabilidade fiscal, priorizará os investimentos em educação. No entender dele, esses desembolsos “não são gastos, mas investimentos no futuro”. Para Lula, é preciso investir na “formação de jovens, formar profissionais capacitados”. E lembrou que, quando foi presidente, o país reativou a indústria naval, mas não havia soldadores de cascos de navios. “Tivemos que trazer trabalhadores brasileiros do Japão”, contou.

Retorno

O petista assume, na próxima semana, coordenação-geral do governo de transição e disse esperar que, com a melhora da economia a partir do ano que vem, brasileiros que estejam em Portugal retornem ao país de origem certos de que terão melhores condições de vida. Hoje, a comunidade brasileira em Portugal é a maior entre os estrangeiros: são mais de 252 mil registrados oficialmente, mas, com os em situação irregular, o total passa de 400 mil.

“Fico com uma certa tristeza quando vejo brasileiros que tiveram de sair do Brasil porque não tinham perspectivas de emprego e de educação. Mas, no nosso governo, essas pessoas poderão retornar. Espero que logo o Brasil esteja pronto para recebê-los”, observou.

Também destacou esperar que o Brasil possa ser pacificado logo, de maneira que as pessoas voltem a falar sobre política sem brigas em família e entre amigos. “A política deve ter uma discussão sadia, sem ódio, não brigas entre mãe, pai e filhos. Não é isso que queremos”, enfatizou.