Título: Piquet pode perder autódromo
Autor: Lorenna Rodrigues
Fonte: Jornal do Brasil, 23/10/2005, Brasília, p. D3

Denúncias de descumprimento do contrato e sonegação de impostos podem impedir renovação da concessão ao ex-piloto

O tricampeão mundial Nelson Piquet pode perder a concessão do autódromo homônimo do piloto. A dois meses da renovação da concessão do Autódromo Internacional Nelson Piquet, o Ministério Público investiga denúncias de descumprimento do contrato e sonegação de impostos. Os indícios de irregularidades foram alvo de uma investigação da Câmara Legislativa. Técnicos da Casa concluíram que 50% do que estava previsto no contrato de concessão - assinado em 2005 e válido por 10 anos - não era cumprido. Entre as falhas detectadas pelos técnicos estão a falta de instalações ambulatoriais, a precariedade de instalações físicas como portões, portarias e banheiros, e falhas nas pistas de kart e motocross.

- Há indícios também de que a concessionária deixou de passar ao governo os 10% da arrecadação, como previsto no contrato. Além disso, a venda de ingressos era feita de forma desorganizada, o que dificultava a fiscalização - afirma a deputada distrital e ex-presidente da Associação Brasiliense de Automobilismo (Abra), Eliana Pedrosa (PFL).

A deputada entrou com representação na Promotoria de Defesa do Patrimônio Público, que investiga o caso.

- Nós estamos ainda no início da investigação. Temos informações a respeito do descumprimento do contrato, estamos requisitando documentos e ouvindo os administradores do autódromo para concluirmos se há ou não irregularidades - explica o promotor Vetuval Martins Vasconcelos, que ainda não decidiu pela convocação ou não de Piquet.

Festas - A principal reclamação da Abra é quanto ao excesso de festas realizadas no autódromo.

- Desde que a atual administração do autódromo assumiu, a principal função do local, que é o automobilismo, vem sendo deixada de lado. Nós temos dificuldades de marcar competições no local e até mesmo de treinar, porque o autódromo está sempre reservado para alguma festa ou show - reclama o diretor da Abra, Paulo Roberto Hahon.

Hahon afirma que a dificuldade de conciliar calendários é tanta que, em 2006, o Campeonato Regional de Automobilismo de 2004 teve de ser terminado em Goiânia.

- Nesse ano, várias etapas foram canceladas e outras tiveram que mudar de data para acomodar as festas. Deveríamos ter realizado 10 etapas do campeonato mas fizemos apenas 6. No próximo fim de semana, por exemplo, nós teremos corrida no domingo mas não poderemos treinar no sábado, porque tem etapa de motociclismo que não pode ser feita em outra data por causa das festas- garante.

Segundo a deputada Eliana Pedrosa, depois da festa não é feita a limpeza do local, o que acaba prejudicando os pilotos.

- Ficam para trás caco de vidro, lata, tampa de cerveja, que podem furar pneus e prejudicar corridas. É uma vergonha a situação do autódromo de Brasília, uma mancha no Eixo Monumental, no centro da cidade - aponta.

No ano passado, foram realizadas 32 corridas de automobilismo e motociclismo no autódromo de Brasília. No mesmo período, aconteceram 13 festas, que vão desde Micarecandanga - que reúne mais de 60 mil pessoas - a festas gospel. Os números deste ano não foram divulgados.

O ex-piloto Nelson Piquet e o administrador do Autódromo de Brasília, Carlos Gontijo, não foram encontrados para comentar o assunto.