O Globo, n. 32589, 28/10/2022. Política p. 4

Ligeira vantagem

Dimitrius Dantas
Bianca Gomes


Na penúltima pesquisa Datafolha antes da votação em segundo turno, o ex-presidente Lula manteve 49% das intenções de voto e o presidente Jair Bolsonaro oscilou um ponto para baixo, ficando com 44%. Ao contrário do levantamento anterior, divulgado no dia 19, os dois deixaram de estar empatados tecnicamente no limite da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos. No atual cenário, o petista atingiria, no limite inferior, 47%, enquanto o titular do Palácio do Planalto teria 46% no limite superior.

Os números do Datafolha subsidiam as campanhas para a preparação dos candidatos e esquentam a prévia do último debate antes da eleição, a ser realizado às 21h30 de hoje pela TV Globo.

Na semana final da campanha, na qual Lula centrou seus ataques contra Bolsonaro no campo da economia, o petista cresceu quatro pontos percentuais entre os mais pobres, aumentando sua vantagem para 28 pontos entre aqueles com famílias que recebem até dois salários mínimos. Nos últimos dias, o atual presidente foi atacado após a revelação de que o Ministério da Economia estuda flexibilizar o reajuste do salário mínimo, desvinculando-o da inflação. Bolsonaro, por outro lado, viu sua vantagem aumentar também para 28 pontos entre aqueles com renda familiar mensal acima de cinco salários mínimos —nesse grupo, tem 60% das intenções de voto.

Excluídos os votos brancos e nulos, Lula tem 53% dos votos válidos, contra 47% do atual presidente. A pesquisa anterior do Datafolha indicava placar de 52% a 48% por esse cálculo, com o petista à frente, há uma semana. O levantamento mostra ainda que 92% dos eleitores se dizem totalmente decididos. O percentual de convicção do voto oscilou dois pontos para baixo. Na pesquisa anterior, 94% diziam já ter batido o martelo.

O levantamento foi contratado pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo. Foram entrevistados 4.592 eleitores em 253 municípios entre 25 e 27 de outubro.

Fatos recentes

O período de realização das entrevistas capta os dias seguintes ao ataque a tiros promovido pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) a agentes da Polícia Federal. O caso envolvendo o agora ex-aliado de Bolsonaro criou uma crise para a campanha do candidato à reeleição, que buscou se dissociar do ex-deputado, enquanto a propaganda de Lula fez esforços na direção oposta.

Faltando três dias para a eleição, a coligação do atual presidente também trava batalha jurídica para que seja reconhecido suposto favorecimento de emissoras de rádio ao ex-presidente Lula. O pedido de investigação da campanha à reeleição foi rejeitado pelo presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Moraes, por falta de provas. Ele determinou abertura de procedimento administrativo contra o PL, partido de Bolsonaro, para apurar desvio de finalidade no uso do fundo partidário para a contratação de auditoria e também a ocorrência de possível crime eleitoral com o objetivo de tumultuar a eleição.

Assim como apontavam as pesquisas no primeiro turno, a maioria do eleitorado feminino, 52%, diz preferir Lula, que tem uma vantagem de 11 pontos sobre Bolsonaro nesse grupo. Entre os homens, há um empate técnico entre os dois candidatos, mas quem aparece numericamente à frente é Bolsonaro, com 48% das intenções de voto contra 46% do petista.

Lula continua liderando entre os católicos, com 55% das intenções de voto contra 39% de Bolsonaro. Os católicos são a maioria do eleitorado brasileiro. Em relação à última pesquisa, o petista oscilou três pontos para baixo e Bolsonaro, dois par acima. O presidente mantém uma larga vantagem entre os evangélicos: são 62% que apoiam Bolsonaro nesse segmento, contra 32% que preferem o petista.

Segundo o Datafolha, a intenção de voto em Lula e Bolsonaro é praticamente espelhada pela rejeição dos dois candidatos. Quando questionados em quem não votariam de jeito nenhum ,50% dos entrevistados respondem que rejeitam o atual presidente, número similar aos que declaram voto em Lula. Por outro lado, 45% dizem que é no petista em quem não votariam. Mais uma vez, um percentual parecido com o de eleitores que declaram voto em Bolsonaro.

Os números permanecem estáveis em relação à última pesquisa. No caso de Lula, houve uma oscilação de um ponto para baixo na sua rejeição. Em relação a Bolsonaro, a fatia é a mesma na comparação com a semana passada.

Quanto à avaliação do governo, o percentual de aprovação de Bolsonaro foi exatamente o mesmo da pesquisa divulgada no dia 19, quando 39% diziam que consideravam a atual administração como ruim ou péssima, enquanto 38% responderam que o mandato de Bolsonaro era ótimo ou bom. A única variação ocorreu entre os que consideram o governo regular, percentual que foi de 22% para 23%.

O equilíbrio da disputa também se reflete em três dos maiores colégios eleitorais: São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. De acordo com o Datafolha, os dois estão tecnicamente empatados em Minas, onde Lula tem 48% e Bolsonaro, 43%. A margem de erro é de três pontos. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, os dois também estão tecnicamente empatados, mas no limite da margem de erro e com o presidente na liderança, com 49% contra 43% do petista. Já no Rio a liderança de Bolsonaro é mais folgada. Entre os cariocas, ele tem 51% contra 41% do ex-presidente. Nesse caso, a margem de erro é de quatro pontos.