Título: Parceria de segundas intenções
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 22/10/2005, Economia & Negócios, p. A20

Petrobras espera que aliadas na Sétima Rodada a ajudem na conquista de mercados no exterior

A Petrobras quer contrapartidas das parceiras que escolheu para explorar o petróleo brasileiro. Em troca das oportunidades de aliança oferecidas na Sétima Rodada, a estatal espera aumentar seus negócios no exterior com empurrão das multinacionais. É o toma-lá-da-cá que a estatal vai cobrar da BG, Repsol, Devon, Statoil e Petrogal, como revelou o diretor de Exploração e Produção da companhia, Guilherme Estrella. ¿ Não será exatamente neste momento, mas num processo de internacionalização estas possibilidades de troca serão consideradas. Esse é um aspecto que a Petrobras leva em consideração nas suas parcerias ¿ afirmou, ao ser indagado se a Petrobras trocaria possibilidades com suas parceiras do leilão. ¿ No futuro, as parcerias certamente contribuirão ¿ acrescentou.

A Petrobras arrematou 18 blocos em parceria e 96 sozinha, sem consórcio. Com a BG, a Petrobras arrematou o bloco mais caro do leilão, de R$ 160 milhões. A área é continuação do campo sobre reservas gigantes de gás natural na Bacia de Santos. Estrella reiterou a parceria com a companhia inglesa para explorar e desenvolver o campo de Mexilhão. Também tem a seu lado a espanhola Repsol para investir na região.

A americana Devon é parceira da Petrobras na Bacia de Campos. Para o Espírito Santo, berço de óleo leve, a estatal levou a Statoil, da Noruega, e a Petrogal, de Portugal. Esta também foi a parceira estratégica na retomada dos campos maduros ¿ cuja produção já entrou em declínio ¿ no Recôncavo Baiano.

A entrada de grandes petroleiras na Bacia de Santos, a mais disputada do leilão, tem algumas razões. Especialistas do setor de petróleo avaliam que a Petrobras está prestes a descobrir uma nova província de petróleo e gás natural na região, em águas ultraprofundas. Tanto que Petrobras e BG pagaram R$ 160 milhões por um único bloco, justamente o que tem potencial exploratório a seis mil metros abaixo do nível do mar.

¿ É uma sinalização clara da possibilidade de uma nova província de petróleo e gás. Não tenho dúvida do potencial que existe abaixo da camada de sal (sobre a qual estão as reservas já descobertas) ¿ assinala John Forman, diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Assim como o lance junto à BG, outros blocos na Bacia de Santos e outras regiões atraíram interessados pelo potencial de gás natural. Os investimentos da Petrobras em exploração e produção a partir da Sétima Rodada serão duas vezes maiores para blocos com potencial em gás do que para áreas voltadas para óleo.

Estrella revelou que o programa exploratório nas áreas com gás demandarão investimentos de US$ 404 milhões, considerando a perfuração de 19 poços. Já as áreas voltadas para a busca por petróleo precisarão de US$ 207 milhões, com a perfuração de 10 poços.

Os gastos da estatal com o pagamento pelos blocos arrematados também foram maiores para os de maior potencial para o gás natural: US$ 171,2 milhões, ante US$ 118,7 milhões nos blocos com melhores perspectivas de óleo.