Valor Econômico, v. 20, n. 4961, 21/03/2020. Internacional, p. A11

Pandemia atrasará negociações na OMC

Assis Moreira 


A pandemia do coronavírus atrasará em pelo menos um ano barganhas finais para acordos entre os 164 membros da Organização Mundial de Comércio (OMC). Também freará movimentos de liberalização em vários países.

Por causa da covid-19, a conferência de ministros de comércio, que ocorre a cada dois anos e estava prevista para ocorrer de 8 a 11 de junho em Nursultan, capital do Cazaquistão, foi cancelada.

Com isso, desaceleraram iniciativas que vão desde eliminar subsídios ao setor pesqueiro e definir apoio ao setor agrícola até mais transparência a regulações domésticas no setor de serviços.

A OMC está paralisada. Reuniões de todo tipo foram suspensas até o fim de abril. Tentativa de negociação virtual sobre eliminar certos subsídios no setor pesqueiro dificilmente avançará, pois o formato do encontro não ajuda.

Mesmo se a propagação do vírus diminuir nos próximos meses, dificilmente haverá conferência ministerial da OMC neste ano. Em novembro haverá eleição presidencial nos EUA, o que é sempre ruim para negociações multilaterais.

O mais provável é que a conferência ministerial seja empurrada para o meio do ano que vem. Até lá negociadores acham difícil surgir algum acordo para reativar o Órgão de Apelação, espécie de corte suprema do comércio internacional, que o governo Donald Trump busca reformar inteiramente.

A crise freou iniciativas em diferentes cantos do mundo. O acordo de livre comércio entre o Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai) e a Associação Europeia de Livre Comércio (Efta, formada por Suíça, Noruega, Islândia e Liechtenstein) seria assinado em junho.

O mesmo vale para o acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). A expectativa era de que a Alemanha, ao assumir a presidência da UE em julho, encaminharia o acordo para exame das instituições europeias. Mas a prioridade agora é fortalecer a cooperação no mercado comum europeu e superar a recessão que se aproxima.

A ratificação do acordo entre a UE e o Vietnã também está em marcha lenta. Além disso, poucos agora estão focados num acordo com o Reino Unido após o Brexit.

Apenas Trump continua sua guerra comercial. Washington aumentou tarifas sobre aeronaves europeias de 10% para 15%. Na prática isso não tem muito efeito, pois as encomendas despencaram.

Negociadores temem, no entanto, que, uma vez passada a crise, EUA e China retomarão a guerra comercial com ainda mais força.