Correio Braziliense, n. 21802, 25/10/2022. Brasil, p. 6

Lula afirma que Saúde será prioridade

Tainá Andrade


O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reforçou, ontem, que a Saúde não será tratada como gasto, mas como prioridade em seu terceiro mandato. Em reunião do Grupo de Trabalho (GT) da equipe de transição com especialistas da área, representantes de diversas entidades do setor e cinco ex-ministros da Saúde realizada, ontem, ele estabeleceu como meta resolver a questão da baixa adesão à vacinação de todos os tipos de doenças ainda no primeiro ano de governo. 

Nesse sentido, o petista defendeu investimento em inovação e em soluções criativas para aprimorar o atendimento à saúde da população brasileira. Ele ainda garantiu que não faltarão recursos para recuperar a área da Saúde, especialmente políticas como o Programa Nacional de Imunização (PNI), desestruturado na gestão do presidente Jair Bolsonaro (PL). 

Participaram da reunião virtual representantes do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Da sede da Fiocruz, em Brasília, estavam o ex-ministros senador Humberto Costa (PT-PE), o deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), Arthur Chioro, José Gomes Temporão e José Agenor.

No encontro, o presidente eleito ressaltou ainda que, para melhorar a qualidade do SUS, será preciso investir significativamente em inovação e soluções criativas e, de maneira emergencial, resolver gargalos do sistema em favor de um melhor atendimento à população, como a questão da lista de espera para atendimento especializado.

Nas redes sociais, Lula comentou sobre o compromisso virtual com o GT. “Participei agora de reunião online com especialistas em saúde sobre o Programa Nacional de Imunizações, nosso programa de vacinas, que sofreu tanto nos últimos anos. Vamos trazer de volta o Zé Gotinha e fazer do Brasil mais uma vez referência mundial em vacinação”, escreveu.

Vacinas

Para iniciar o combate, direcionou um pedido ao time de profissionais da saúde: que entregassem caminhos possíveis para montar estratégias propostas capazes de combater o problema. A Fiocruz se posicionou ao esclarecer que está em processo de transferência de tecnologia para começar a produzir contra vacinas de RNA mensageiro (responsável por carregar as instruções para a síntese de proteínas das células) contra a covid-19, como as fabricadas pela Pfizer, com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS).  Esse tipo de imunizante “ensina” o organismo a produzir a proteína que liga o vírus às células, fazendo com que o corpo do paciente se defenda contra a doença.  

A instituição baseada no Rio deixou claro, para os presentes na reunião, que poderá se tornar um pólo de vacina para o Brasil e outros países internacionais. “Esse é um assunto que poderia ter dado um papel destacado ao Brasil internacionalmente, teve seu potencial diminuído durante a pandemia. É um assunto que engloba relação multilateral no mundo, geração de emprego, soberania tecnológica e, sobretudo, salvar vidas de forma que se combata a desigualdade no acesso à vacinas”, analisou Nésio Fernandes, presidente do Conass, que estava do encontro virtual com Lula. 

Cortes de recursos

Levantamento do Instituto de Estudos para Políticas de Saúde (Ieps) constatou um corte de aproximadamente 50% em diversas áreas da saúde com o Orçamento enviado pelo governo Jair Bolsonaro (PL) para 2023. 

O atual projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) prevê para todos os gastos do governo, não só com saúde, R$ 149,9 bilhões para o próximo ano, o menor valor desde 2014. A Fiocruz  seria uma das instituições afetadas por esse orçamento proposto pelo atual governo, afetando diretamente as políticas públicas, inclusive as vacinas.

“A conversa foi um marco porque durante os quatro anos de governo do  presidente Bolsonaro, ele só se reunia com lideranças antivacinas, médicos e falsos pesquisadores que defendiam o controle da pandemia. Essa é uma virada na agenda de saúde pública, que foi combatida durante todo esse tempo”, comemorou Nésio. “Não podíamos discutir sobre vacinas pediátricas porque era um assunto tutelado, sendo que esse é um assunto do ECA (Estatuto da Criança e Adolescente), então qualquer opinião contrária está errada por se tratar de um direito”, destacou o presidente do Conass.

Lula mostrou-se “angustiado” com a falta de acesso da população brasileira às cirurgias, às consultas e aos exames no Sistema Único de Saúde (SUS), segundo representantes que participaram da reunião. Outra prioridade apontada pelo petista serão os serviços do SUS, os quais ele reconheceu não ser um problema específico da pandemia. Os recursos do Orçamento destinados à área foram apontados como a questão mais preocupante. Nesse sentido, o presidente garantiu ao corpo técnico que não faltarão recursos para recuperar o segmento. 

De acordo com os participantes do encontro é de que a presença de Lula na reunião, ainda que online, diretamente da sua casa em São Paulo — por se encontrar em repouso devido à recomendações médicas por causa do procedimento de laringoscopia a que foi submetido para retirar uma lesão benigna das cordas vocais — é uma mostra de que a Saúde será um dos temas centrais de seu governo, juntamente com o combate à fome. 

O senador Humberto Costa, um dos coordenadores do Gruto de Trabalho de Saúde da equipe de transição, endossou que o tema é “prioridade” para Lula. “Não faltarão recursos para a gente recuperar a Saúde do nosso país”, disse.  (Com Agência Brasil)