Valor Econômico, v. 20, n. 4961, 21/03/2020.
Finanças, p. C5
G20 faz reunião de emergência para coordenar ação anticrise
Assis Moreira
Álvaro Campos
Os líderes das maiores economias desenvolvidas e emergentes, que formam o G20,
farão reunião de emergência virtual nesta semana em busca de ações coordenadas
para atenuar o impacto de uma recessão global que parece inevitável no rastro
da pandemia do covid-19. Nesta segunda, os ministros de Finanças e
presidentes de bancos centrais terão videoconferência para preparar a reunião
extraordinária dos chefes de Estado e de governo do G20, que poderá se realizar
na sexta. Significa que o presidente Jair Bolsonaro, que chama o coronavírus de
uma “gripezinha”, vai debater com os outros líderes como frear as
piores ameaças à saúde, economia e na área social.
Respostas emergenciais
somando trilhões de dólares estão sendo anunciadas em grande escala, seguindo
um manual semelhante ao que ocorreu na crise de 2008 e 2009. Inclui cortes
agressivos nos juros, grandes injeções de liquidez pelos bancos centrais,
flexibilização macro prudencial e criação de linhas de crédito. Também estão sendo
usados pacotes de alívio fiscal e programas de garantia de crédito para
ajudar o setor privado a suportar choques provocados pelo confinamento de
populações inteiras.
No entanto, a
Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) alertou, no
sábado, que, apesar das primeiras medidas ambiciosas terem sido tomadas,
“somente um esforço coletivo internacional e coordenado” permitirá enfrentar o
que chama de guerra contra o coronavírus. Sugere ações conjuntas com ambição de
um Plano Marshall global. Em 1947, o plano de ajuda à Europa do pós-guerra
focou na reconstrução da economia e o combate à fome e à pobreza.
“As medidas aplicadas
através do mundo, embora essenciais para controlar a propagação do vírus,
mergulham nossas economias numa paralisia sem precedentes e da qual elas não
sairão simplesmente ou automaticamente”, diz a OCDE.
Ações dos BCs
conseguiram frear a degringolada ainda maior nos mercados na semana passada.
Mas analistas insistem que as maiores economias do mundo precisam juntar forças
para fazer a recessão a mais superficial possível e pavimentar o terreno para a
retomada. Em editorial, o “Wall Street Journal” diz que, se o fechamento
de atividades imposto pelo governo continuar por mais de uma ou duas semanas, o
custo humano em perdas de emprego e falências vai exceder o que a maioria dos
americanos imagina.
Entre ações urgentes
recomendadas pela OCDE, que participa das reuniões do G20, estão:
primeiro, os governos precisam suprimir obstáculos regulatórios para vacinas e
tratamentos contra a pandemia; segundo, mais gastos públicos e mais rapidamente
para atenuar o impacto negativo da crise e acelerar a retomada; e restabelecer
a confiança, que passa por evitar mais confrontos comerciais e
eliminar várias restrições nas trocas entre os países.
“A prioridade mais
urgente é de reduzir o número de mortes e os efeitos nefastos da pandemia sobre
a saúde humana”, afirmou o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria. “Mas a
pandemia igualmente deflagrou uma crise econômica grande que vai pesar sobre
nossas sociedades nos próximos anos”.
O Instituto
Internacional de Finanças (IIF), que representa 450 instituições financeiras de
75 países, conclama o G20 a resolver a guerra de preços no mercado de petróleo,
conduzida por dois países membros: a Arábia Saudita, na presidência rotativa do
grupo, e a Rússia.
Lembra também que foi
o G20 que criou o Conselho de Estabilidade Financeira (FSB, na sigla em inglês)
no meio da grande crise financeira global. Nota que certos supervisores e
reguladores na área financeira tem permitido às instituições financeiras usar o
espaço permitido por colchões de capital. Mas que é preciso coordenar esse tipo
de ação globalmente para dar resultados.
Os pacotes de socorro
se sucedem entre países do G20, sem coordenação. Os ministros de finanças dos
27 países da UE, em reunião virtual nesta segunda, examinarão a possibilidade
de utilização do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MES). Com € 410 bilhões
(3,4% do PIB), essa instituição financeira, criada durante a crise da
dívida em 2012, pode socorrer países com problemas financeiros agora, sem
pesadas contrapartidas. E isso dará fôlego especialmente à Itália,
superendividada e a mais atingida pela pandemia.
Nos EUA, um pacote de
estímulo fiscal de US$ 1 trilhão inclui envio de dinheiro para os cidadãos
e US$ 208 bilhões de garantias de empréstimos.
A Alemanha deverá
aprovar nesta segunda um pacote de quase € 600 bilhões para socorrer famílias e
empresas. A Espanha tem pacote de US$ 219 bilhões. A Itália fez um pacote de
US$ 28 bilhões, mas deve continuar com outras medidas. O governo francês
prometeu no total US$ 330 bilhões de socorro. Parte vai para pequenas e médias
empresas, além de dezenas de bilhões para trabalhadores forçados a parar as
atividades com o fechamento de lojas e restaurantes.
O Reino Unido anunciou
pacote de estímulo fiscal de 14,5 bilhões de libras. O Banco da Inglaterra (BC
britânico) baixou os juros a praticamente zero. No Canadá, o pacote de ajuda é
de 82 bilhões de dólares canadenses para a o setor privado.
O Comitê de Basileia
para Supervisão Bancária realizou uma teleconferência na sexta para
discutir o impacto da disseminação do coronavírus no sistema bancário global. O
órgão apoiou medidas de flexibilização de exigências regulatórias que estão
sendo adotadas por diversos países e disse que estuda novas medidas. Nos
próximos dias, o comitê considerará medidas adicionais destinadas a apoiar a
resiliência financeira dos bancos e a resiliência operacional da
comunidade bancária e de supervisão durante esses tempos sem precedentes”,
informou.