Valor Econômico, v. 20, n. 4961, 21/03/2020. Finanças, p. C10

Nova Selic já pressiona taxas da renda fixa

Adriana Cotias


O investidor já começou a encontrar taxas mais baixas para aplicações em títulos de renda fixa de emissão bancária com a nova Selic, em 3,75% ao ano. Em contrapartida, com o estresse dos mercados, papéis públicos federais, negociados via Tesouro Direto, passaram a apresentar retornos mais atrativos.

Nos títulos bancários, os juros pagos continuaram caindo, conforme levantamento da plataforma de busca de investimentos Yubb para o Valor.

Para aplicações de R$ 5 mil em títulos como CDB, LCI, LCA ou LIG, as ofertas para um prazo de 24 meses estavam, em média, em 4,54% ao ano, ante 5,13% de sete dias antes e 5,24% há um mês. Na taxa atual, o retorno real esperado, se restringe a 1,01% ao ano, antes do desconto do Imposto de Renda.

Nos aportes com valores menores, de R$ 1 mil, as taxas encontradas pelo investidor para 12 meses estavam, em média, em 4,31% ao ano, saindo de 4,79% na semana anterior, e de 4,90% 30 dias atrás.

Essas taxas são médias de alternativas encontradas nas plataformas de investimentos digitais voltadas para o varejo. O aplicador pode encontrar outros parâmetros nas agências, no segmento private banking ou pelo grau de relacionamento com as instituições onde mantêm conta.

Bernardo Pascowitch, sócio-fundador da plataforma Yubb, diz que houve um aumento de busca e interesse por renda fixa com a alta da volatilidade na renda variável nas últimas semanas. “Isso pode ter segurado o aumento das taxas de rentabilidade desses emissores em razão da maior demanda por parte de investidores”, disse ele.

Sem conseguir enxergar repasse de preços com a queda brusca que a atividade terá, Marcos Lyra, gestor da Daycoval Investimentos, prefere os títulos prefixados aos atrelados à inflação e sugere que o investidor avalie papéis emitidos por bancos médios, dentro do escopo de proteção do Fundo Garantidor de Créditos (FGC) - que assegura R$ 250 mil por investidor, em caso de quebra das instituições financeiras.

Conforme exemplifica, papéis com vencimento em quatro anos vinham pagando, na semana passada, taxas próximas de 10% ao ano, e não ficam oscilando com a atualização dos preços ao valor de mercado como ocorre com os títulos públicos.

Entre os papéis emitidos pelo Tesouro, um movimento que tem sido feito pelos institucionais e que pode ser replicado pela pessoa física é sair de papéis vinculados à taxa básica de juros, como o Tesouro Selic ou fundos usados para caixa, para os mais longos, atrelados à inflação, como o Tesouro IPCA, diz Leonardo Sapienza, gestor de fundos líquidos da BV Asset Management.

“A taxa de juro real que estava em 3,5% ao ano, agora está próxima de 5%. Alguns fundos receosos de que as taxas de juros, já baixas, caiam mais aproveitam o momento de estresse para rebalancear as carteiras. É o movimento correto, mas vai ser um período de muita volatilidade.”

No Tesouro Direto, os papéis com vencimento em 2035 pagavam na sexta-feira IPCA mais 4,58%, já com algum recuo em relação aos 4,7% da véspera. O Tesouro Prefixado com resgate em 2026 assegurava uma rentabilidade de 8,04% ao ano. Se a Selic se mantiver em 3,75% até lá, o investidor pode se apropriar por mais tempo do retorno maior. O risco é a taxa ir além disso no meio do caminho.