Correio Braziliense, n. 21803, 26/10/2022. Economia, p. 7

Mercado resiste a Haddad na Fazenda

Rosana Hessel


O mercado financeiro voltou a indicar que não quer o ex-ministro da Educação Fernando Haddad na chefia do Ministério da Fazenda no terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em reação a discurso pronunciado por Haddad em evento promovido, ontem, pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), o Índice Bovespa (Ibovespa), principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), encerrou o pregão com queda de 2,55%, para 108.976 pontos, num movimento de recuo que se acentuou após a fala do ex-ministro. Já o dólar subiu 1,89% e fechou o dia cotado a R$ 5,410, refletindo o aumento da desconfiança dos investidores.

 
Lula vem testando as reações ao nome de Haddad para comandar a economia — e o almoço com os banqueiros foi uma oportunidade para avaliar como essa opção seria recebida pelo poderoso setor financeiro. Na avaliação de alguns integrantes do atual governo, Haddad teria ficado mais forte, sobretudo depois de, na quinta-feira, a bolsa ter fechado em alta de 2,75%, quando ele foi mencionado ao lado do economista Pérsio Arida, cotado para assumir o Planejamento. A queda de ontem, porém inverteu essa percepção, na visão de fontes do mercado.
 
Uma das falas do ex-ministro que menos agradou a plateia foi aquela em que ele defendeu maior taxação sobre o patrimônio. Investidores estão muito preocupados também com a questão fiscal, porque sabem que haverá um enorme rombo em 2023, dependendo do tamanho dos gastos extrateto que serão aprovados na PEC da Transição. Fontes do mercado financeiro disseram que o fato de Haddad não demonstrar preocupação com a questão fiscal, durante seu pronunciamento, azedou o clima e fez a Bolsa cair. “Ele não disse nada demais, nem podia, porque ainda não é ministro”, rebateu uma fonte do novo governo. “Lula quer Haddad, mas o mercado não quer e o Lula vai ficando emparedado”, retrucou outro integrante do mercado financeiro.
 
Dúvidas
Segundo um economista, diante do texto preliminar da PEC da Transição, que prevê a colocação de R$ 198 bilhões, fora do limite da regra do teto de gastos, no Orçamento de 2023, há dúvidas se mesmo o ex-ministro Henrique Meirelles, preferido pelo mercado para comandar a economia, aceitaria ser ministro da Fazenda. Ontem, outro nome foi ventilado para o cargo, o do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, filho do empresário José Alencfar, vice presidente dos dois primeiros mandatos de Lula.
 
O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, aproveitou a confusão para detonar o nome de Haddad. “A Bolsa cai e o dólar sobe depois da fala de Haddad. Querem nomear o incêndio para comandar o corpo de bombeiros e esperam o quê?”, escreveu nas redes sociais.
 
As informações, agora, são de que Lula só escolherá o nome do futuro ministro depois que conseguir aprovar a PEC da Transição.