Valor Econômico, v. 20, n. 4966, 24/03/2020. Brasil, p. A4

Arminio sugere renda mínima para 100 milhões

Cristiano Romero 


Para lidar com “uma crise que só acontece uma vez a cada cem anos”, o governo deveria abrir mão da austeridade fiscal neste momento, defende Arminio Fraga, ex-presidente do Banco Central (BC) e, hoje, sócio da gestora Gávea Investimentos. Segundo ele, apesar de não ter hoje uma boa situação fiscal, diferentemente do que ocorreu na crise mundial de 2008, o Brasil tem dinheiro para enfrentar os graves efeitos da pandemia do novo coronavírus, a covid-19.

Convidado do programa Roda Viva, transmitido na noite de ontem pela TV Cultura, Arminio mencionou medidas que, em sua opinião, deveriam ser adotadas para minorar o impacto negativo que a quarentena da população já está provocando sobre a economia, devido ao fechamento de bares, restaurantes, shoppings etc.

O ex-dirigente do BC sugere que, além de incluir mais 1,3 milhão de famílias no Bolsa Família, o governo crie rapidamente um programa de renda mínima que beneficie, no total, até 100 milhões de brasileiros, pouco menos da metade da população do país. “As pessoas precisam saber que, durante esta crise, terão dinheiro para comprar comida”, justificou

Arminio estima que as novas despesas possam custar ao Tesouro algo como 4% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 300 bilhões. O dinheiro pode vir da emissão de títulos públicos, isto é, do aumento da dívida pública. O uso de recursos das reservas cambiais é descartado porque, observou o economista, embora o volume atual seja considerado exagerado, por exemplo, pelo FMI, essa é uma conta sujeita a várias ponderações. Ademais, assinalou, internalizar dinheiro de reservas vendidas lá fora é uma operação que, no fim, envolve emissão de dívida.

Questionado se a deterioração fiscal não piorará ainda mais as condições financeiras (bolsa, juros e taxa de câmbio), afundando ainda mais a atividade, o ex-presidente do BC disse que isso não ocorrerá se o governo souber comunicar bem o que está fazendo.

De perfil liberal, o economista afirma que nunca apoiou a ideia de Estado mínimo, atribuída pela esquerda ao governo FHC, ao qual serviu como presidente do BC entre 1999 e 2002. Arminio disse no Roda Viva que a atual crise, mesmo no início, já deixa lições. Uma delas é que o país não gasta o suficiente com saúde pública, “menos até que os Estados Unidos”.

Em artigo publicado ontem na “Folha de S.Paulo”, Arminio defende um conjunto de medidas para evitar que micro, pequenas e médias empresas (PMEs) fechem as portas durante o surto de coronavírus. Assinado em conjunto com os economistas Vinícius Carrasco e José Alexandre Scheinkman, o texto propõe a liberação de R$ 120 bilhões em recursos do Tesouro para assegurar que as PMEs paguem os salários de seus funcionários por pelo menos quatro meses. “Circunstâncias extraordinárias requerem atuação extraordinária”, alegam os três economistas.

“Em períodos de crise, observa-se no mercado de crédito uma perversa combinação de encolhimento e substancial encarecimento de crédito. O que fazer? Uma boa opção é o poder público criar linhas (temporárias) emergenciais de crédito, nas quais incorra diretamente pelo risco de crédito. Nos EUA, a proposta é criar uma linha de crédito de US$ 300 bilhões para ajudar as PMEs.”

Questionado se a deterioração fiscal não piorará ainda mais as condições financeiras (bolsa, juros e taxa de câmbio), afundando ainda mais a atividade, o ex-presidente do BC disse que isso não ocorrerá se o governo souber comunicar bem o que está fazendo.

De perfil liberal, o economista afirma que nunca apoiou a ideia de Estado mínimo, atribuída pela esquerda ao governo FHC, ao qual serviu como presidente do BC entre 1999 e 2002. Arminio disse no Roda Viva que a atual crise, mesmo no início, já deixa lições. Uma delas é que o país não gasta o suficiente com saúde pública, “menos até que os Estados Unidos”.

Em artigo publicado ontem na “Folha de S.Paulo”, Arminio defende um conjunto de medidas para evitar que micro, pequenas e médias empresas (PMEs) fechem as portas durante o surto de coronavírus. Assinado em conjunto com os economistas Vinícius Carrasco e José Alexandre Scheinkman, o texto propõe a liberação de R$ 120 bilhões em recursos do Tesouro para assegurar que as PMEs paguem os salários de seus funcionários por pelo menos quatro meses. “Circunstâncias extraordinárias requerem atuação extraordinária”, alegam os três economistas.

“Em períodos de crise, observa-se no mercado de crédito uma perversa combinação de encolhimento e substancial encarecimento de crédito. O que fazer? Uma boa opção é o poder público criar linhas (temporárias) emergenciais de crédito, nas quais incorra diretamente pelo risco de crédito. Nos EUA, a proposta é criar uma linha de crédito de US$ 300 bilhões para ajudar as PMEs.”