Título: Crise do mensalão abate o primeiro tucano
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2005, País, p. A2

Presidente do PSDB deixa cargo após envolvimento com caixa dois de campanha

BRASÍLIA - Beneficiário de recursos de caixa dois durante a campanha ao governo de Minas Gerais em 1998, o senador Eduardo Azeredo (MG) anunciou ontem sua renúncia da presidência do PSDB. A decisão foi negociada em reunião com o líder do partido no Senado, Arthur Virgílio (AM), e o senador Tasso Jereissati (CE), deverá tornar-se presidente do PSDB em eleição no próximo dia 18 de novembro. Até a data, o prefeito de São Paulo, José Serra, assume o cargo. - Não permitirei que usem meu nome para encobrir a corrupção do governo - disse o senador, ao anunciar o afastamento no plenário do Senado.

Com a manobra, as lideranças tucanas esperam retirar o partido do centro da crise política, deixando os holofotes das investigações voltados para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o PT, os principais adversários da oposição na corrida eleitoral de 2006.

O PSDB anunciou, ainda, que colherá as assinaturas necessárias para criar uma CPI no Senado destinada a investigar, de forma exclusiva, o caixa dois em campanhas eleitorais.

A iniciativa ampara-se em dois fatores distintos. Um deles é a crença de que o caso de Azeredo, considerado ''reprovável'', foi isolado no PSDB. O outro é o conjunto de depoimentos prestados pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares de que a utilização de ''recursos não-contabilizados'' é prática corriqueira no PT.

- Vamos instalar uma CPI só para caixa dois para dissipar esta cortina de fumaça cínica usada pelo PT - declarou Virgílio.

O líder tucano já apresentou requerimento convocando para depor na CPI dos Correios 18 tesoureiros de campanhas regionais do PT. Na mira, estão petistas graúdos como o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP).

Segundo Virgílio, a CPI dos Correios será beneficiada com a instalação da nova comissão, pois centrará esforços apenas na tentativa de desvendar a origem dos recursos que irrigaram o mensalão.

- Há uma tentativa deslavada do governo de confundir caixa dois com corrupção - afirmou Virgílio.

Nenhum integrante da base aliada rebateu as alegações no plenário. Em conversas reservadas, o líder do PMDB na Casa, Ney Suassuna (PB), disse que as CPIs existentes seriam capazes de investigar todos os fatos.

Ex-líder do PT na Casa, o senador Tião Viana (AC) deu de ombros para a iniciativa do PSDB. E afirmou que não teme apuração mais aprofundada de caixa dois em campanhas eleitorais.

Com o afastamento de Azeredo, o prefeito de São Paulo, José Serra, reassuma a presidência do PSDB, permanecendo no cargo até a posse de Jereissati na função. Pré-candidato ao Planalto, Serra não queria comandar o partido durante a transição. Temia desgaste político diante da possibilidade de ter de prestar esclarecimentos sobre as acusações que assolam o colega de partido.

Virgílio e Jereissati demonstram, inclusive, simpatia à pré-candidatura à presidência do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

- Não é questão de querer, mas de dever - comentou Arthur Virgílio, líder tucano no Senado.

Antes de ocupar a tribuna do Senado para anunciar o afastamento da presidência do partido, Azeredo distribuiu uma nota na qual cita reportagens que relatam a contribuição de Marcos Valério para sua campanha em 1998.

No texto, Azeredo diz que desconhecia as decisões tomadas por seu tesoureiro de campanha, Cláudio Mourão.

- Só por má-fé ou hipocrisia, desconhece-se que assim ocorre praticamente em todas as candidaturas majoritárias e que as demais atividades de campanha são geridas por coordenadores de áreas - afirma Azeredo na nota, repetindo argumentação já apresentada pelo presidente Lula