Título: Rocha Mattos depõe na CPI
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2005, País, p. A3

A CPI dos Bingos, comissão mais temida pelo Planalto, ouve o depoimento do juiz federal afastado João Carlos da Rocha Mattos, dois dias depois de aprovar a prorrogação de seus trabalhos até o final de abril. Rocha Mattos é o juiz federal, preso em novembro de 2003, acusado de vender decisões judiciais. Ele será ouvido na véspera da acareação de Gilberto Carvalho, chefe-de-gabinete do presidente Luiz Inácio Lula Silva, com os irmãos do prefeito assassinado de Santo André (SP), Celso Daniel.

O depoimento de Mattos antecede a acareação, porque a CPI dos Bingos quer ouvir primeiro o ex-juiz que sobre a acusação que fez a Carvalho, a quem atribuiu ter atrapalhado a investigação do assassinato do prefeito, morto em janeiro de 2002. O senador Tião Viana (PT-AC) criticou a convocação do juiz afastado à comissão.

- Rocha Mattos é um chantagista atrás do benefício de delação premiada- afirmou acrescentando que o PT está não está preocupado com a acareação do assessor de Lula será com os irmãos João Francisco e Bruno Daniel.

No entanto, o governo tenta negociar um acordo com a oposição para que a acareação seja feita em sessão secreta, a exemplo do depoimento de Carvalho à CPI. A preocupação do Planalto deve-se as declarações dos irmãos Daniel que afirmam que Carvalho sabia de um esquema de corrupção na prefeitura, que arrecadaria dinheiro para campanhas do PT. Segundo o Ministério Público de São Paulo, Celso Daniel foi morto por ter rompido com o esquema de corrupção.

Os integrantes da CPI dos Bingos acreditam que o depoimento de Mattos pode contribuir nas investigações, porque ele afirma ter ouvido 42 fitas de escutas telefônicas em que petistas, incluindo Carvalho, conversavam sobre o assassinato de Celso Daniel.

Em entrevista à revista Veja publicada no início do mês, Mattos afirmou que que o chefe de gabinete de Lula ''comandava todas as conversas'' e mostrava preocupação com a buscas da polícia no apartamento de Celso Daniel.

- Vamos ver se ele confirma a denúncia de que Gilberto Carvalho contribuiu para tumultuar a investigação do assassinato - disse o relator da CPI, senador Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN).

As gravações que Mattos teve acesso eram ilegais. A Polícia Federal grampeou os telefones com a alegação de que se tratava de uma investigação sobre tráfico de drogas, quando na verdade grampeava petistas.

Mattos afirma que mandou destruir as fitas, mas diz ter ficado com cópias. As gravações, segundo o juiz, foram apreendidas pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Anaconda, em 30 de outubro de 2003, que desmontou a quadrilha de venda de decisões judiciais. A PF nega.