Título: Artilharia da oposição contra governo
Autor: Daniel Pereira
Fonte: Jornal do Brasil, 25/10/2005, País, p. A3
A oposição tem duas novas cartas na manga destinadas a enfraquecer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na corrida ao Palácio do Planalto em 2006. Uma delas já foi usada ontem, quando o presidente da CPI dos Bingos, senador Efraim Morais (PFL-PB), leu requerimento que prevê a prorrogação, até abril do ano que vem, dos trabalhos da comissão, apelidada por integrantes do governo de ¿CPI do Fim do Mundo¿. A segunda manobra é a discussão do afastamento do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, acusado de ter usado, assim como o PT, dinheiro de caixa 2 de campanha. De acordo com Morais, o requerimento lido no plenário da CPI não precisa ser votado. Entrará em vigor automaticamente ¿ como estabelece o artigo 152 do Regimento Interno da Casa ¿ tão logo seja publicado, o que deve acontecer hoje. A segunda cartada também pode ser lançada hoje. O PSDB discutirá a situação do presidente do partido, senador Eduardo Azeredo, que recebeu recursos de caixa 2 de Marcos Valério Fernandes de Souza durante campanha ao governo de Minas Gerais em 1998.
Lideranças tucanas proporão o afastamento de Azeredo da presidência do PSDB. Eles dizem que a medida é a única capaz de tirar o partido do centro da crise política. O corte na própria carne tem de ser imediato. Não poderia esperar nem mesmo a eleição geral do PSDB, marcada para novembro. Se o plano dos líderes funcionar, o prefeito de São Paulo, José Serra, assumirá a presidência interina do PSDB, até a aclamação, nas eleições internas, do senador Tasso Jereissati (CE).
Ontem, o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), disse que a vontade de Azeredo será fundamental para o desfecho do caso.
¿ A situação constrange o PSDB. Temos de tirar o episódio do Azeredo do ar. Ele funciona como cortina de fumaça para o governo, que se recusa a ficar sozinho na crise ¿ declarou Virgílio, que não adiantou se defenderá o afastamento do colega da presidência do partido.
O movimento das lideranças tucanas funciona, na prática, como correção de estratégia. No início das investigações, integrantes do PSDB fecharam questão em defesa de Azeredo. Primeiro, porque o crime de caixa 2, de 1998, já teria prescrito. Segundo, devido ao fato de o senador afirmar que não sabia da irregularidade, assim repetiu discurso do presidente Lula no caso do mensalão. O desgaste levou à mudança.
¿ Eu não o desculpo por não saber do caixa 2 ¿ disse Virgílio. Também de olho em 2006, o líder do PSDB no Senado apresentou, na semana passada, requerimento convocando 18 tesoureiros de campanhas regionais do PT para depor na CPI dos Correios. Na lista, figuram caixas de campanhas de estados como São Paulo e Santa Catarina, que poderiam implicar lideranças como Aloizio Mercadante e Ideli Salvatti.
¿ O caso do Azeredo é isolado e reprovável. Já a corrupção faz parte do DNA do PT. Há vontade do governo de misturar alhos com bugalhos ¿ afirmou Virgílio. Responsável pela leitura do requerimento que estende a CPI dos Bingos até abril de 2006, o senador Efraim Morais disse que a iniciativa visa a garantir o aprofundamento das investigações e impedir uma eventual desmoralização das instituições. Reservadamente, no entanto, os pefelistas admitem que querem garantir o ¿sangramento¿ de Lula em ano eleitoral.
Combustível não falta. Criada para investigar a relação dos bingos com os governos estaduais e federal, a CPI fará amanhã acareação entre o chefe-de-gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, e Bruno e João Francisco Daniel, irmãos de Celso Daniel, prefeito petista de Santo André, morto em 2002. Os dois acusam Carvalho de participar de esquema de propina na cidade para o caixa nacional do PT, o que teria ligação com o seqüestro e a morte de Celso Daniel.