Título: Senado exige explicações de Mesquita
Autor: Hugo Marques e Sérgio Pardellas
Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2005, País, p. A5

Senador do P-SOL acusado de cobrar 'mensalinho' de funcionários terá de enviar defesa prévia ao Conselho de Ética da Casa

BRASÍLIA - O Conselho de Ética do Senado pediu a ''defesa prévia'' do senador acreano Geraldo Mesquita Júnior (P-SOL-AC) sobre a cobrança de 40% que ele faz de salários dos servidores lotados em seu gabinete. Caso considere as explicações insuficientes, o Conselho vai abrir processo e ouvir funcionários e ex-funcionários do senador.

O Jornal do Brasil enviou ontem ao Conselho de Ética e à Corregedoria do Senado - que também demonstrou interesse no caso - cópias das gravações das conversas da chefe do escritório do senador no município de Sena Madureira, Maria das Dores Siqueira da Silva, a 'Dóris', e o ex-assistente parlamentar Paulo dos Santos Freire. Os dois dizem na gravação que tiveram de entregar parte do salário para pagar dívidas do escritório do senador.

A assessoria da presidente do P-SOL, senadora Heloísa Helena (AL), havia solicitado cópia da fita para ''anexar'' ao pedido de investigação que o partido enviou ao Conselho de Ética, mas a senadora tentou protelar e não entregou a fita.

Dois assessores da senadora disseram ontem que o gabinete não teve ''tempo hábil'' para enviar a fita. O JB entregou cópia da gravação à senadora na sexta-feira.

No ofício que enviou ao Conselho de Ética, Heloísa Helena informa que o senador Geraldo Mesquita ''se antecipa a qualquer deliberação'' e ''se declara à disposição para prestar todo o e qualquer esclarecimento''.

Caso não se convença das explicações de Geraldo Mesquita, o Conselho de Ética vai abrir processo e deverá enviar uma missão ao Acre para ouvir ex-funcionários e os atuais servidores do senador sobre a cobrança do mensalinho. A Polícia Federal deve ser chamada para ajudar o Senado a investigar o caso. O corregedor Romeu Tuma ficou preocupado com as denúncias:

- É muito grave. Demonstraria quebra de ética, se verdade for - disse Tuma.

O conjunto de versões do senador sobre o dinheiro que recebe dos servidores também irritou colegas do Senado. Na semana passada, ele atribuiu tudo à chamada ''solidariedade militante''. Depois, afirmou que o dinheiro era para comprar café. Em sua terceira e última versão, Mesquita atribuiu a responsabilidade pelo mensalinho à funcionária Dóris, mas não a demitiu. O senador Sibá Machado (PT-AC) cobra coerência:

- Vi uma resposta dele dizendo que era contribuição militante. De uma hora para a outra ele nega tudo. Quero saber qual é o Geraldo Mesquita que está falando sério - diz.

A sugestão de Sibá é que Paulo e Dóris fiquem frente a frente, numa acareação, para tirar todas as dúvidas sobre a cobrança do mensalinho. Tudo que não é acordado, diz Sibá, é um ''ilícito''. O PT, diz o senador, só cobra contribuição dos filiados que assinam a ficha do ''sistema de arrecadação nacional'' do PT. Os que não aceitam a cobrança, podem sustar a cobrança.

A Executiva do P-SOL se reuniu ontem para discutir o caso. Primeiro, uma comitiva do partido se reuniu no gabinete do senador e depois teve outro encontro no gabinete de Heloísa Helena. No inicio da noite eles decidiram que vão aguardar a conclusão das investigações para tomar uma decisão sobre o caso.

A situação de Mesquita se complicou. Além do Conselho de Ética e da Corregedoria do Senado, a CPI do Mensalão pode convocar os ex-servidores e os atuais funcionários do gabinete. A deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) anunciou que vai apresentar os requerimentos.