Título: Vice-presidente sob suspeita
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Fonte: Jornal do Brasil, 26/10/2005, Internacional, p. A7

WASHINGTON - O vice-presidente americano, Dick Cheney, revelou a identidade da agente da CIA (agência de inteligência dos Estados Unidos) Valerie Plame ao chefe de seu gabinete, Lewis ''Scooter'' Libby Jr., segundo o jornal The New York Times. A informação veio a público em julho de 2003 na coluna do repórter Robert Novak e foi motivo para a prisão da jornalista Judith Miller por três meses.

Citando anotações do chefe de gabinte, o jornal revelou que foi Cheney quem primeiro revelou a identidade de Valerie, esposa de um crítico da guerra do Iraque, o ex-embaixador Joseph Wilson. Recentemente, depois de autorizada pela fonte, Judith afirmou que havia conseguido a informação com Libby.

As notas entregues ao The New York Times pelos advogados contradizem as declarações do assessor, segundo as quais ele teria se inteirado da identidade da agente através da imprensa. É a primeira vez que o nome de Cheney é vinculado diretamente ao caso.

Segundo o jornal, Cheney não sabia o nome da funcionária da CIA, mas tinha conhecimento que ela era mulher de Wilson. Quando o caso veio à tona, o então embaixador estava na África para pesquisar a suposta compra de urânio do Níger pelo Iraque. A intenção era que ele reforçasse a idéia de que o então ditador Saddam Hussein tinha em seu poder armas de destruição em massa, o que não aconteceu.

Para Wilson, o vazamento do nome de sua esposa foi parte de uma manobra para desacreditá-lo, já que discordava da guerra. Em 2003, ele publicou, também no Times, um artigo intitulado ''O que eu não encontrei na África'', em que questionava se o governo do presidente George Bush tinha manipulado a CIA para justificar a invasão.

O nome de Valerie chegou a Cheney por meio do ex-diretor da CIA George Tenet, mas nenhum dos dois teria conhecimento de que a agente trabalhava à paisana. Revelar a identidade de um funcionário que trabalha oculto nos EUA é crime.

A conversa sobre Wilson e Valerie entre Cheney e Libby não é crime mas, segundo o promotor do caso, Patrick J. Fitzgerald, é ilegal ''fazer qualquer ação para impedir o andamento das investigações'', acusação que cai agora sobre o chefe de gabinete.

Fitzgerald afirmou que irá decidir até sexta-feira se vai acusar Libby formalmente. O assessor pode ser indiciado junto a outra personalidade da Casa Branca, o conselheiro de Bush, Karl Rove.

O caso é mais um problema para o governo de Bush, já abalado pela insurgência no Iraque e pelo fiasco da assistência às vítimas do furacão Katrina. Mal nas pesquisas de opinião, o presidente havia prometido que qualquer pessoa que cometeu um crime não trabalharia mais no governo.

A Casa Branca se manifestou em relação à matéria:

- ''O vice-presidente está fazendo um grande trabalho como integrante da administração, e o presidente aprecia tudo o que ele está faz - afirmou o porta-voz do presidente, Scott McClellan.