O Globo, n. 32534, 03/09/2022. Política, p. 7

Frases machistas de Bolsonaro e Lula geram críticas nas redes

Alice Cravo
Kathlen Barbosa


Em semana que começou com ataques do presidente Jair Bolsonaro (PL) à jornalista Vera Magalhães, durante debate presidencial realizado pela Band, Folha de S. Paulo, TV Cultura e Uol, levando a pauta do machismo para o centro das discussões da corrida eleitoral, os dois candidatos mais bem colocados nas pesquisas foram criticados por falas de cunho machista em atos de campanha. Em discurso em que defendia a divisão do trabalho doméstico entre homens e mulheres, o ex-presidente Lula (PT) escorregou ao usar uma frase que associa as tarefas de casa a “serviço da mulher”. Já Bolsonaro voltou a fazer piadas durante a transmissão ao vivo pelas redes sociais, em que afirmou que notícia boa para as mulheres é “beijinho, rosas, presentes e férias”. O petista recebeu críticas na internet pela declaração que fez durante ato realizado em Belém, na quinta-feira.

— A gente quer que a nossa mulher seja respeitada. A gente quer que o nosso companheiro homem, quando a sua companheira trabalha, ele tenha a dignidade de ir para a cozinha ajudar no serviço da mulher porque assim ele vai ser parceiro — disse no início do discurso. Este não foi o primeiro deslize do ex-presidente ao abordar a pauta. Ao falar sobre violência contra mulher em discurso em São Paulo, o petista elogiou a Lei Maria da Penha e discursava condenando agressões contra mulheres. Numa passagem, porém, disse a frase: “quer bater em mulher, vá bater noutro lugar, mas não dentro da sua casa ou no Brasil”. Já Bolsonaro fez a afirmação ao comentar a redução no número de feminicídios, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.

— Uma notícia boa para as mulheres, né? Se bem que notícia boa para as mulheres é beijinho, rosas, presentes, férias. É isso mesmo? Isso que vocês gostam? Eu também gosto — disse na live de quinta-feira.

Novos ataques

Ontem, Bolsonaro foi às redes sociais para ironizar e rebater a advogada e apresentadora Gabriela Prioli, que disse que não entrevistaria o presidente por não achar “oportuno abrir espaço para quem ataca abertamente a democracia”. Bolsonaro usou seu perfil no Twitter: “Tabajara Futebol Clube diz por que não quer Neymar em seu time”, fazendo referência ao time de futebol do humorístico Casseta e Planeta, da TV Globo, para insinuar que um programa “menor” estaria desprezando um “grande jogador”.

Lula e a candidata Simone Tebet (MDB) foram às redes sociais para prestar solidariedade à advogada. O vice de Lula, Geraldo Alckmin (PSB), e o candidato a deputado federal Guilherme Boulos (Psol) também manifestaram solidariedade à apresentadora. “Não é possível termos um presidente que constantemente ofende mulheres e agride pessoas para aparecer, que não sabe conviver com ideias diferentes ou respeitar as mulheres”, escreveu Lula. Simone Tebet, que no debate presidencial já havia criticado a postura de Jair Bolsonaro, comentou:

— Um presidente que não respeita mulheres, automaticamente não respeita o Brasil. Mas ele não vai conseguir te calar. Nem a você, nem a nenhuma de nós.