O Globo, n. 32535, 04/09/2022. Política, p. 8

Pesquisas dão nova divisão de forças para o próximo Senado

Ana Flávia Pilar
Jan Niklas


A um mês das eleições, candidatos apoiados pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lideram a disputa ao Senado em sete estados, enquanto nomes ligados ao presidente Jair Bolsonaro (PL) aparecem à frente em quatro. Levantamento do GLOBO com base nas últimas pesquisas de intenções de voto do Ipec mostra ainda que nos demais estados há empate na liderança ou preferência por candidatos de partidos que não se alinharam à polarização nacional. Desde a pré-campanha, o Senado é visto como prioridade tanto por Lula quanto por Bolsonaro em uma futura gestão.

O presidente, que conseguiu formar uma maioria mais consolidada na Câmara, principalmente depois de apoiar a eleição de Arthur Lira (PP-AL), teve no Senado seu calcanhar de Aquiles na relação com o Congresso. Neste ano, será renovado um terço da Casa, o que equivale a 27 senadores. Atualmente, MDB (com 13 cadeiras) e PSD (11) são as maiores bancadas. Na próxima legislatura, a trinca de partidos que sustenta a candidatura de Bolsonaro (PL, PP e Republicanos) partirá de um tamanho de 11 senadores. Para Lula, que tem proximidade com boa parte da bancada emedebista, eleger muitos aliados é a chance de formar uma maioria no Senado, o que dificilmente acontecerá na Câmara, onde precisará de maior negociação para vencer votações.

Acompanhando a distribuição geográfica da maior força de Lula na disputa presidencial, o Nordeste concentra os candidatos favoritos a uma vaga no Senado que são aliados do petista. Dos sete lulistas que lideram as pesquisas, seis são da região: Otto Alencar (BA), Camilo Santana (CE), Renan Filho (AL), Ricardo Coutinho (PB), Flávio Dino (MA) e Wellington Dias (PI). Completa a lista Márcio França, do PSB, em São Paulo. O mesmo acontece com Bolsonaro, cujos aliados bem cotados para se eleger ao Senado estão concentrados no Centro-Oeste, região onde o presidenciável vai bem: Flávia Arruda (DF), Wellington Fagundes (MT) e Tereza Cristina (MS). No Rio, Romário, senador pelo PL, completa o quadro. No estado, o ex-jogador teve o caminho para a reeleição facilitado pelo racha na esquerda, que entrou dividida na eleição com Alessandro Molon (PSB) e André Ceciliano (PT).

— A imagem transmitida ao eleitorado é de desconfiança. Foi um erro brutal que se cometeu, e agora não há mais volta. Além disso, Romário já é senador e está no estado que é o berço do bolsonarismo. Ele se aproveita do voto conservador — analisa o cientista político da Fundação Getulio Vargas (FGV) Eduardo Grin. O mesmo, com sinais trocados, aconteceu em São Paulo, onde Márcio França foi beneficiado pelo racha no campo bolsonarista, que tem o ex-ministro Marcos Pontes (PL) e a deputada estadual Janaína Paschoal (PRTB) disputando votos. Em alguns estados, Lula tem um aliado em condições competitivas, ainda que não seja o primeiro colocado isolado. É o caso do Amazonas, onde Omar Aziz (PSD) tenta se reeleger fazendo campanha colado à imagem do presidente. Ele está em empate técnico com Arthur Virgílio (PSDB), que tem fugido da nacionalização apostando em temas locais. Em terceiro lugar está o candidato de Bolsonaro, Coronel Menezes (PL). Há ainda estados em situação de confronto direto, com cenário de equilíbrio nas pesquisas entre lulistas e bolsonaristas. Em Minas Gerais, Cleitinho Azevedo (PSC), apoiado pelo presidente da República, marcou 15%, em empate técnico na margem de erro com Alexandre Silveira (PSD), da coligação de Lula no estado. Em Sergipe, estão tecnicamente empatados o candidato de Lula, Valadares Filho (PSB), com 20%, e o candidato de Bolsonaro, Eduardo Amorim (18%).

Em cinco estados, os candidatos líderes nas pesquisas não são apoiados nem por Lula, nem por Bolsonaro: Acre, Amapá, Paraná, Rio Grande do Norte e Santa Catarina. Ex-presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil) concorre à reeleição liderando a disputa no Amapá, com 39%, sem se atrelar à disputa nacional. Em segundo lugar, Rayssa Furlan (MDB), cujo partido lançou Simone Tebet para a Presidência, também faz campanha com foco na política estadual. Já o terceiro colocado na corrida, Capi (PSB), aposta em Lula como cabo eleitoral para tentar crescer nas pesquisas.

Racha no bolsonarismo

Em Goiás, o líder das pesquisas, Marconi Perillo (PSDB), passa ao largo da nacionalização da disputa para o Senado. Ele tem 24% das intenções de voto, em empate técnico com Delegado Waldir. Ex-aliado de Bolsonaro, o candidato do União Brasil também se mantém neutro na disputa nacional. No Distrito Federal, há uma disputa entre duas candidatas do campo bolsonarista. A ex-ministra Flávia Arruda (PL), que lidera a disputa, enfrenta a concorrência da também ex-ministra Damares Alves (Republicanos). Com apoio da primeira-dama Michelle Bolsonaro, Damares atingiu por ora metade das intenções de voto de Flávia, filiada ao partido do presidente: 31% a 16%. Outras figuras de proa do governo Bolsonaro apresentam dificuldades. O ex-ministro Rogério Marinho (PL) vê Carlos Eduardo (PDT) à frente no Rio Grande do Norte. No Rio Grande do Sul, o vice presidente Hamilton Mourão (Republicanos) é o terceiro, atrás do petista Olívio Dutra e de Ana Amélia (PSD).Figuras de proa do atual governo, como Damares e Mourão, têm dificuldades